sexta-feira, 31 de julho de 2009

chamo-te imprudência

ouço-te entre dois cantos,
do grilo que me delicia
e do galo que me desperta
no resto escuto silêncio.

vejo-te entre dois mundos,
o imaginário que me extasia
e o real que me acerta
no resto observo sombra.

sinto-te entre dois toques,
o leve que me arrepia
e o brusco que me aperta
no resto abraço ausência.

cheiro-te entre dois aromas,
o puro que me inebria
e o sintético que me alerta
no resto inspiro solidão.

apesar da sombra do silêncio
e da solidão da ausência,
sei que te amo imprudência,
porque sou eu, porque és tu.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

sociedade hipertexto

um hipertexto é um conjunto de textos distintos unidos por palavras comuns ou nós que os interligam. É uma estrutura com várias dimensões mas onde cada texto tem a sua própria organização, a sua sintaxe e sua gramática.O Wikipédia é um bom exemplo de hipertexto.

sociedade hipertexto, é uma metáfora para o “individuo-palavra” onde o indivíduo é a ligação entre os espaços sociais onde se movimenta, o profissional com uma “sintaxe” no trabalho com os colegas, no espaço social familiar usando outra “sintaxe”, com os amigos do desporto, com os parceiros da blogosfera, etc.

mudamos várias vezes por dia de sintaxe, de um espaço social para o outro ligando e desligando conjuntos de códigos sociais e culturais diferentes, o vocabulário, os temas, a forma divergem. quem não presenciou um profissional durão que a meio de um reunião recebe uma chamada pessoal transformando-se em cordeirinho utilizando termos que por vezes roçam o hilariante de tão improváveis?

a possibilidade de se deslocar dentro de vários espaços sociais abre uma série de potencialidades que não estão de forma igualitária acessíveis a todos. A mobilidade física e virtual torna-se assim um elemento cada vez mais importante na formação das desigualdades individuais e sociais.

a multipersonalidade que resulta, capaz de se comportar de forma diferente consoante o ambiente que frequenta implica a capacidade de gerir vários “eus” e de se inventar personagens dentro de uma temporalidade e espaço múltiplos. Confrontados com uma variedade crescente do espaços-tempos é preciso deslocarmo-nos cada vez mais rapidamente uma vez que não temos o dom da ubiquidade, o único que nos garantiria a reunificação dos vários “eus”.


no trabalho, recebendo uma chamada familiar e escrevendo este texto... quase que os reunia a todos...

terça-feira, 21 de julho de 2009

esboço


desejo beijar-te as palavras
que me aceleram o coração
quero sentir a escrita
que flui da tua mão.

deitar-te em papel craft
para fazermos um draft
cada letra linha curva
cada espaço de compasso.

escreves profundo desejo
num canto que eu não vejo
e pões-me o nome na boca
como se estivesses louca.

papel dobrado e desdobrado
suspiro de paragrafo inacabado
tesão evidente em esboço
tão fácil, antes não fosse.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Corações gastos


"...Casou três vezes para se divorciar três vezes. A culpa era só dele que se cansava de ter estranhos corpos ao seu lado. Não entendia a sua vida quanto mais a dos outros e o que começava como companhia acabava em tédio assegurado. Por vezes fala com elas por telefone. Nunca se esquecem do seu aniversário e telefonam-lhe. Uma delas manda-lhe flores, estrelícias, as suas preferidas. Nunca discutiam, viviam uma vida confortável e depois diziam que partiam, que queriam ter uma família, filhos que crescessem..."

Pedro Paixão em "Os corações também se gastam"

Abri o livro nesta página... obrigou-me a ler mais algumas... interessante.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

palavra e gesto

arrependido da palavra dita
irreflectida imatura e inacabada
conjugada de forma imperfeita
dissonante da ideia fundada.

mal entendido bem entendido
feito impossível de desfazer
realidade que se ganha perdendo
ilusão que se perde ganhando.

antes prevalecesse silencio
em vez das palavras faladas
rastilho para outras anunciadas
desfazendo alegrias partilhadas.

passados velozes desfilam
presentes venosos destilam
futuros airosos ruíram
fruto da irracional racionalização.

sonhadores, ganhadores, perdedores
ressaca, amuo, sofrimento
sucede-se o dia a noite e do nada
surge o gesto, a luz e a alvorada.

toque subtil gera arrepio
proximidade quanta intimidade
amor ganho no esquecimento
entrega dispensa entendimento.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

minuto anti prosa

estou teso e pronto, enquanto,
de actos libidinosos fazemos projectos
em pontas de línguas molhadas de afectos
durezas pontuadas suavizadas por gestos.

vou fundo no teu ventre arqueado
desejo renovado desde a puberdade
mãos percorrem, sensações ocorrem
capta o momento flash e movimento.

articulo palavras nada candentes
poderias sentir por te sentir quente
quero que não queiras, ficas pendente
e troças de mim injurias ausentes.

solto-te a língua em colos e regaços
roço-te as carnes apalpo os espaços
sinto-te nos bicos depressa hirtos
descontrolo-te o tino já descontínuo.

é todo teu, desmepertence
é toda minha, desmerecida
é tudo nosso, temporariamente
é de ninguém, definitivamente.

somos egoístas à vez
somos altruístas talvez,
procuras descargas de ondas eléctricas,
procuro jactos de combustão instantânea.

hora de prosa

sei que gostas de fazê-lo crescer na boca, mas hoje já estou pronto.

os teus olhos olham-no e não escondem o prazer que a tua mente adivinha, encostas os lábios entreabertos e a tua boca experimenta a sua dureza, sabes como dar prazer, não é difícil, gosto confesso, gosto da forma aguçada que a língua toma quando o encontra totalmente exposto, de como fica molhado e de como a tua mão me segura plena de caricias.

a minha língua fica ansiosa. o meu olfacto alerta, ambos procuram a essência em cada poro até se fixarem teimosamente nesse pedacinho de paraíso. sei muito bem como devo gerir a pressão e o toque, conheço os sinais, as contracções, onde reside esse coração alternativo onde os meus dedos se devem perder procurando, e sei que não é preciso muito...

introduzo enfim devagar, muito devagar, parando mesmo, sentindo mas resistindo ao chamamento do teu interior, centímetro a centímetro num longo percurso que vou fazendo olhando-te nos olhos, vendo a expressão do teu rosto, a boca molhada implorando mais, o prazer reluzente nos olhos e o ventre sôfrego e palpitante, viras a cabeça de olhos fechados como que a quereres captar sensações, gravá-las em memórias, enquanto te sentes cada vez mais cheia, preenchida e molhada.

ritmo e movimento, entrando e saindo no calor e na humidade do teu canal suculento, caminho que conduz ao fundo de nenhures e simultaneamente a todos os locais mais recônditos do desejo sempre imaginado e fabricado desde a adolescência.

entre os nossos ventres sinto-te quente, tão quente que poderias gozar se quisesses, troçar do mundo inteiro abandonada à luxúria, mas eu quero que ainda não queiras e reduzo, e alterno o ritmo, e reduzo outra vez, digo-te ao ouvido as coisas mais abomináveis que jamais diria se não estivesse embriagado de tesão... quase que me amaldiçoas ao mesmo tempo que me desejas ainda mais...

sentada no meu colo, os teus braços envolvem-me o pescoço, mãos percorrem as tuas costas, por vezes agarram-te a nuca por baixo dos cabelos puxo-te a cabeça para trás e as nossas línguas encontram-se, agarro as nádegas , beijo os seios de bicos hirtos puxo-os mais para fora com a língua enquanto te olho nos olhos, aperto o teu corpo e sincronizo-o com o meu num movimento único alternando a velocidade, reduzo-a drasticamente, sadicamente, quando te sinto descontrolada.

queres mais, eu sei, estavas perto, recosto-me até ficar deitado, sentada és agora dona e senhora da situação, e digo-o para o saberes, é todo teu, por momentos agarro a tua cintura e ajudo-te no movimento para logo abrir os braços, liberto-te completamente e és tu que deves impor o ritmo no teu tempo, deixar o prazer entrar e invadir-te, é altura de seres egoísta e desfrutares completamente do brinquedo dentro de ti.

abusa assim dele descontroladamente com toda a sofreguidão que precisares à medida que o teu cérebro é invadido e é todo ele pensamento fálico, sensações únicas num vai vem sensorial difuso que te percorre o corpo e finalmente sem conteres os teus sons misturados de respiração intensa o teu corpo electriza-se... e explode descarregando toda a energia acumulada em ondas sucessivas de puro prazer até ficarmos imóveis colados pelo suor dos nossos corpos sentindo o batimento dos corações e o sangue a correr contribuindo para cada contracção muscular que forço ainda dentro de ti, sinto-te assim sensível, a vibrar mais um pouco de cada vez.

viro-te e reviro-te de dois de três e de quatro, agarro a tua cintura, puxo-te para mim até ao fim, passo a minha mão pelas tuas costas agarro o teu rosto e fico assim imóvel de joelhos vendo os teus movimentos aumentarem num vai e vem curto e longo até se tornarem frenéticos quase descoordenados, o teu corpo muda de direcção forçando-me a pressionar alternadamente pontos diferentes até te concentrares naqueles que te dão mais prazer, partes para outra dimensão...

peço-te para te alongares de bruços, o meu corpo desce de encontro ás tuas costas afasto o teu cabelo e beijo a tua nuca iniciando os movimentos que sei que me levam ao fim. sou egoísta o que é que queres? agora o suor escorre-me pelo corpo enquanto me movimento desesperadamente mantendo-te presa, imóvel, na minha uretra já há muito cheia de fluídos passa o primeiro jacto, o primeiro foguetão de combustão instantânea... seguem-se duas ou três réplicas, quase que doí, não sei, a uma dor tão boa assim não se pode chamar dor.