domingo, 11 de dezembro de 2011

dualidade

o principio de separação da alma e do corpo, tão inculcado há mais de 2000 anos na nossa cultura ocidental, mesmo que amplamente contradito como prova a ciência das ultimas décadas, continua a influenciar a tendência para o individualismo na sociedade que agora é global.

isto a propósito da surpreendente história do ancião kanac, autóctone da nova caledónia que, interrogado acerca do que, na sua opinião, fora o contributo dos valores ocidentais para a sua cultura, respondeu: «o que voçês nos trouxeram foi o corpo.»

sexta-feira, 20 de maio de 2011

mimetismo

o desejo dos homens ( e das mulheres) é mimético, quer dizer assenta sobre os objectos que os outros também desejam.
quanto mais o desejo do outro é intenso maior o meu será.
nesta escalada surge um momento em que o desejo do outro conta mais que o próprio objecto.
a rivalidade torna-se num conflito pessoal e termina em violência aberta.
o conflito humano é um produto da rivalidade.
nos animais os conflitos de rivalidade resolvem-se em geral pelo estabelecimento de relações de dominação.
nos homens, nem pensar. não se submetem espontâneamente e começam violências intermináveis no interior da própria espécie ou grupo, praticam a vingança diferida no tempo, e por mimetismo tornam a violência um assunto colectivo.
a violência humana torna-se contagiosa por mimetismo, e a crise mimética pode acabar em massacre. temos muitos linchamentos na história que resultam de puro mimetismo de comportamento, a começar por j.cristo.
há uma crise mimética actualmente em curso em portugal, veja-se o caso de sócrates, é imparável a sua saída da cena politica.

terça-feira, 8 de março de 2011

sugestionamento

encontrei o zé por acaso, já não o via há muito. falamos do passado, das antigas namoradas, enfim daquelas coisas, e trocamos contactos. psicólogo de formação e estudioso dos comportamentos humanos, ligou-me na altura do seu aniversário e convidou-me a jantar com o seu grupo de amigos. deve ter entendido que a minha vida precisava de um empurrão.

foi assim que reencontrei a sofia, perdi-lhe o rasto há uns dez anos desde que a nossa breve relação terminou quando conheceu e se apaixonou irremediavelmente pela filipa, coisas da vida. continua irresistível, o seu corpo ainda suporta bem a saia justa e a blusa apertada. o seu sorriso aberto e a sua simpatia fazem o resto. o zé tratou de me sentar ao lado dela e sem pensar muito, ou melhor pensando pouco, dei por mim altas horas da madrugada enfiado no seu apartamento.

impulsionada pela minha curiosidade foi-me contando peripécias da sua relação com a filipa. a verdade é que, dissipada a desilusão inicial por ter sido preterido por uma mulher, os meus desejos mais profundos e inconscientes impunham-me a fantasia sexual de estar com as duas.

contou-me que a ultima vez que viu a filipa numa festa, já estavam separadas, despediram-se com um longo beijo. no regresso a sua casa, no metro, a sofia ainda com o sabor intenso desse beijo,  recordou-o longamente e deixou-se invadir por memórias de luxuria. lentamente as suas pernas contrairam-se, sentiu-se corar, e descontrolada mordeu os lábios para reprimir o som do seu orgasmo. foi o local e a ocasião mais estranha e inesperada em que teve um orgasmo, confessou.

não sei se é veridica ou se se trata apenas de uma historia uma vez que não tem parelelo no meu universo masculino, onde apenas pelos sonhos se dá ejaculação por sugestão sem qualquer outro contacto fisico. mas a história teve um objectivo erotico, e uma finalidade sexual que nessa noite foram plenamente atinjidos.