sexta-feira, 11 de junho de 2010

conhecer-te


o que o teu olhar distraído e vago insinua
mais intimo que o teu outro lânguido ensaia
tal como entre cortinas de perfumes sintéticos
embriaga-me apenas a pura essência de fêmea.

muito mais que o teu sorriso franco e aberto
prendem-me as nuances volumétricas desses lábios
feitas de pequenos movimentos sincronizados
por estímulos que transpõem defesas imaginárias.

sentiste-me? queres saber.
como se não importasse a transpiração da respiração
que tropeça no embargo da voz.
como se não visse o lençol que se enreda nos dedos
à medida que os teus punhos se fecham.
como se não soubesse da lassidão quente
que vem após humidas contracções.

dizes que não te conheço
e no entanto preferia desconhecer-te
para te conhecer de novo.

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terça-feira, 1 de junho de 2010

moral biológica

se consultarmos um padre, um psicanalista ou um pensador racional todos responderão que ter uma conduta moral é lutar contra os seus apetites, reprimir as suas pulsões e controlar os seus instintos.

portanto em oposição à vivência actual assente na satisfação imediata dos impulsos, cada vez mais escudada no sentimento de que a moral é de origem biológica e do domínio do inato.

seriamos assim generosos por instinto,fieis por natureza, sinceros por incapacidade de mentir, donde não haveria mérito em se comportar de forma moral, não mais do que comer quando temos fome. o avaro, o delinquente e o invejoso apenas teriam que responder que estão a fazer o que o seu metabolismo ordena.

felizmente a moral não é nem uma luta constante contra os instintos nem os instintos estão em roda livre. assim, quando renunciamos a seduzir a mulher de um amigo reprimindo um desejo sexual (igualmente biológico) trata-se de uma virtude simultâneamente moral e biológica: estamos a cuidar da nossa integridade e do equilíbrio das forças que em nós existem.