quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

sentimento oceânico

freud em " o futuro de uma ilusão" analisa a religião como uma forma de regressão do adulto ás emoções da infância. a submissão dos homens para com deus é como a criança que se confronta com a sua fragilidade. face aos escolhos da vida recorrem ambos à figura paternal, o pai no caso da criança e deus no caso do adulto, para buscar apoio e protecção.

sendo sem duvida redutor assimilar a religião a uma regressão psicológica, alguns místicos virados para a espiritualidade oriental evocaram um outro estado de consciência, o sentimento oceânico, uma impressão estranha de fusão com o cosmos, onde a consciência se dissolve num grande todo. muitos ocidentais new age partiram para a índia esperando efectuar a experiência do sentimento oceânico praticando o misticismo, com muitas drogas à mistura.

finalmente as neurociências tentaram ver se havia alguma relação deste sentimento com algum estado particular do cérebro e conseguiram medir em pessoas que praticam a meditação transcendental uma queda da actividade do cérebro no córtex parietal que... adormece. ora esta área é responsável pela orientação espacial e pela percepção da posição relativamente ao ambiente circundante. a inibição desta área do cérebro favorece assim uma espécie de sentimento de indiferenciação entre o ser-se e o não ser-se.

os homens sempre muito criticados pelo seu comportamento pós-coito, de não conversarem e de adormecerem com facilidade têm aqui um belo álibi..." porque querida adorei, foi perfeito, fiquei numa espécie de êxtase transcendental, uma espécie de sentimento oceânico de fusão contigo..."

terça-feira, 24 de novembro de 2009

adultos...

a impaciência com que os miúdos esperam o dia do seu aniversário não tem paralelo senão no receio dos adultos vendo chegar o seu. paradigma de uma juventude que começa cada vez mais cedo e acaba cada vez mais tarde e uma nova velhice em que se é idoso sem se ser velho.

no universo profissional, os recursos humanos só reconhecem duas categorias - júnior e sénior - , como se fossemos sempre ou demasiado jovens ou demasiado velhos para trabalhar.

o que sobra para a fase adulta é uma faixa cada vez mais reduzida, e é nela que se descarrega todo o peso da existência, num punhado de anos todas as frentes se abrem simultâneamente, é preciso uma casa, fazer carreira, criar os filhos, entregar-se aos tempos livres, fazer viagens maravilhosas, pensar no futuro e em si próprio tudo enquanto se gere o quotidiano, em resumo é preciso triunfar na sua vida.

mas quando é que nos sentimos adultos, quando é que atingimos a maturidade?

aventureiros tardios e pais precoces, cada um terá a sua história para contar, mas provavelmente não andará longe de uma resposta em torno da triologia: experiência - relação com o mundo; responsabilidade - relação com os outros e autenticidade - relação consigo próprio.

experiência não é ter visto ou feito tudo, é pelo contrário ser capaz de fazer face a situações que nunca vivemos, situações novas ou excepcionais, ser capaz de integrar novos acontecimentos em grelhas de interpretação, pegar no fio de uma meada.
responsabilidade não apenas dos seus actos, mas responsável pelos actos de outros, ou seja sentir deveres e obrigações mesmo em relação àqueles que não pediram nada, filhos, alunos, colegas mais novos...
ser autêntico "tornares-te naquilo que és", nada mais difícil, encontrar o caminho entre a plenitude do ser-se e o vazio existencial.

reconciliar-se com o mundo, com os outros e consigo próprio não é uma tarefa simples e requer mais tempo e dedicação, e em face dela é natural que de vez em quando possamos sentir-nos cansados de ser adultos.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

lilith

lilith é referida como a primeira mulher do bíblico adão, acusada de ser a serpente que levou eva a comer o fruto proibido. no folclore popular hebreu medieval, ela é tida como a primeira esposa de adão, que o abandonou, partindo do jardim do éden por causa de uma disputa sobre igualdade dos sexos, chegando depois a ser descrita como um demónio.

de acordo com certas interpretações da criação humana, reconhecendo que havia sido criada por deus com a mesma matéria prima, lilith rebelou-se, recusando-se a ficar sempre em baixo durante as suas relações sexuais. na modernidade, isso levou à popularização da noção de que lilith foi a primeira mulher a rebelar-se contra o sistema patriarcal.

assim dizia lilith: ‘‘porque devo deitar-me em baixo de ti? porque devo abrir-me sob teu corpo? porquê ser dominada por ti? contudo, eu também fui feita de pó e por isso sou tua igual.’’ quando reclamou de sua condição a deus, ele retorquiu que essa era a ordem natural, o domínio do homem sobre a mulher, dessa forma abandonou o éden.

lilith, a primeira femininista de que há registo... ou uma questão de posição.
foto de pecado original, os meus agradecimentos.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

outras ideias

lembrar-se de uma anedota num enterro, imaginar dar uma facada na pessoa com que se está a discutir, ver-se a deixar cair um bebé que se tem ao colo, desejar a morte a alguém próximo... não tenham receio não sou psicopata, mas se pensamentos deste género já lhe passaram pela cabeça não se pode concluir que seja um monstro por isso.

"pensamentos intrusivos" é o nome que lhes deram. mais um processo banal dizem. pensamentos intrusivos circulam como relâmpagos nas cabeças de cada um de nós. apenas se se tornarem ideias fixas ou obsessivas podem gerar nalgumas pessoas angústia e culpabilidade.

durante muito tempo essas obsessões culpabilizantes foram interpretadas como obra de satanás, depois com a psicanálise a expressão do nosso inconsciente, mais recentemente estes pensamentos intrusivos são vistos como o resultado da visualização daquilo que receamos mais, portanto um simples mecanismo de alerta.

"face a uma ideia penosa, pensa imediatamente: tu és uma ideia e não aquilo que representas" como Epiteto aconselhava há já 2000 anos.

claro falta o sexo... deixa ver, pensamentos intrusivos relacionados com o sexo...

ps. profundos agradecimentos à Paula dos Desejos Intimos, pela sugestão da foto.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

menus

no restaurante joga-se em geral um cenário imutável, ritmado por um guião canónico. actores (os clientes) sentam-se à mesa, esperam que o actor servidor traga o menu para efectuar o pedido. o menu proposto é composto por entradas, pratos principais, sobremesas e bebidas. terminada a refeição, pedem a conta, pagam e saem do restaurante, deixando ou não uma gorjeta.

este conjunto de acções faz parte dos guiões que modelam as condutas e enquadram o pensamento. pode evidentemente mudar de um país para outro, por isso hesitamos quando estamos no estrangeiro e não sabemos se devemos ou não deixar gorjeta.

a vida social está na origem de vários cenários pré-definidos, para além do restaurante, seguimos um determinado guião para uma consulta médica, para a ida matinal à casa de banho, para barbear, para conduzir o carro... a maioria aprendidos de forma implícita por simples repetição e armazenados na nossa memória.

estes guiões estruturam espontâneamente os nossos conhecimentos, facilitam as nossas acções automatizando-as. o conhecimento da sequência de acções que devo desenvolver numa determinada situação evita que tenha de pensar e inventar o que devo fazer, assim a atenção que dedico a algo que já tenho automatizado é seguramente inferior permitindo que enquanto me barbeio ou faço jogging pense noutra coisa.

os guiões mentais permitem ainda inferir outras informações apelando aos conhecimentos implícitos para completar o que não está explícito numa frase. por exemplo se disser " a minha mão acaricia suavemente as suas coxas" deduzir-se-á imediatamente um conjunto de outras informações que não estão escritas mas que fazem parte desse cenário.

ps: pensavam que ia deixar o sexo de fora?

Foto: agradeço o desafio aceite por Pecado Original.

domingo, 1 de novembro de 2009

madelaine

"toda a Combray e os seus arredores, tudo isso criou contornos e solidez, saiu, vila e jardins, da minha chávena de chá..." não são precisas muitas páginas de leitura de marcel proust para encontrar estas recordações, que se iniciam num indicio improvável e casual.

" depende do acaso que o encontremos antes de morrer, ou não o encontremos nunca" neste caso, o indicio é potente, visual e gustativo. " estes bolos curtos e arredondados chamados petites madelaines (...), no instante próprio em que na minha boca cheia de migalhas do bolo toca o meu paladar, parei atento ao que se passava de extraordinário em mim. um prazer delicioso invadiu-me, isolado, sem a noção da sua causa. imediatamente as vicissitudes da vida tornaram-se indiferentes, os seus desastres inofensivos, a sua brevidade ilusória, da mesma forma que operou o amor, preenchendo-me de uma essência preciosa: ou melhor essa essência não estava em mim, eu era a própria essência".

" deixei de me sentir medíocre, contingente, mortal (...) imergirá à superfície da minha consciência essa recordação, esse instante antigo que a atracção de um instante idêntico veio de tão longe solicitar, emergir, sobrelevar do meu fundo ? não sei. (...) sinto em mim algo que se desloca, que se quer elevar, algo que se desancorou a uma grande profundidade; não sei o que é mas isso sobe lentamente; sinto a resistência, e ouço o rumor das distancias percorridas (...) apenas antevejo o reflexo neutro onde se confunde o indescritivel turbilhão das cores remexidas; mas não distingo a forma, perguntar-lhe como único interprete possível que me traduza o testemunho do seu contemporaneo, do seu inseparável companheiro, o sabor, pedir-lhe que me diga de qual circunstância particular, de qual época do passado se trata."

"de repente a recordação apareceu (...) quando de um passado antigo, nada subsiste, depois da morte dos seres, depois da destruição da coisas, sós, mais vagos mas mais vivos, mais imateriais, mais persistentes, mais fieis, o cheiro e o sabor ficam ainda muito tempo, como almas a se recordar, esperando sobre a ruína de todo o resto, trazer sem hesitações sobre o sabor quase impalpável, o edifico imenso da recordação."

vou comer um pastel de belém, e esperar que... alguma memória involuntária apareça.

ps: tradução rasca eu sei, mas é o que se arranja.
marcel proust, Du côté de chez Swann (1913)

terça-feira, 27 de outubro de 2009

consciência

estou deitado na praia. o sol brilha e enche-me de calor. ouço as ondas e vozes longínquas de pessoas que gritam e brincam perto da água. fecho os olhos e uma doce quietude invade-me. experiência subjectiva do mais banal que existe.

entretanto embrenho-me na leitura de um livro que me absorve, rapidamente o som das ondas e das pessoas sai do meu campo de consciência, já não ouço mesmo que as ondas sonoras continuem a entrar nos meus ouvidos e os seus ecos a propagar-se nos meus neurónios. esta informação continua a ser tratada fora da minha consciência que continua embrenhada na leitura do livro.

mas ao mais pequeno ruído anormal, uma onda mais forte por exemplo, a minha atenção é imediatamente solicitada e a minha consciência desviada para esse ruído ao mesmo tempo que a leitura é interrompida. a minha consciência não pára de saltar de um centro de interesse a outro.

li algures sobre o conceito de "consciência flutuante" para exprimir este movimento incessante e encadeado do pensamento que salta em permanência de tema em tema de preocupação.

ps: para os mais atentos apenas digo que resisti a utilizar o clichê da aparição curvilinea... porque teria que mudar o conceito para "consciência ancorada"...

andar por aí

afinal... vou continuar.
gosto dos poucos amigos que aqui tenho.
gosto de partilhar pensamentos, leituras, divagações.
gosto de escrever aquilo que me apetece.
descobri que apenas me aborrecia uma certa "obrigação" de colocar novos posts, quando não tenho nada para dizer... erro meu.
portanto as coisas vão fluir daqui para a frente a um ritmo... aleatório.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Zai Jian


tudo tem um fim... chegou a vez deste blog.
agradeço a todos os que me visitaram durante estes meses, ao seu carinho e boa vontade.
a mim falta-me vontade de continuar... até um dia, sabe-se lá.
estarei sempre disponível para troca de ideias.

zai jian.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

cali

"tu étais presque belle
j´etais pas loins d´étre fidelle
notre histoire devais être um conte de fait
je m´en vais."

cali,le bordel magnifique
comprei este cd ontem um pouco por acaso depois de ouvir este bocadinho.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

sísifo

sísifo, rei grego e homem astuto enganou deuses e prendeu a morte por uma coleira tendo provocado a ira de zeus e por isso foi condenado a carregar uma pedra até ao cimo de uma montanha, voltando imediatamente a pedra a cair, para sísifo a carregar outra vez até ao cimo , caindo outra vez, e assim por diante, uma vez e outra... para sempre.

este mito antigo sempre encantou as pessoas, pois pode-se-lhe atribuir incontáveis significados. poderia simbolizar o perpétuo nascer do sol, as ondas que se desfazem continuamente na praia, sendo o mais comum aquele que representa a nossa labuta constante para voltar a tentar perante o desencorajamento esmagador.

camus viu nele não só essa representação dos ciclos sem sentido da vida contemporanea, e porque não da restante também, mas encontrou a fuga de sísifo à mortalidade e o encontro deste com a liberdade de pensamento.

"...

... Sísifo retornando à sua pedra, neste modesto giro, ele contempla aquela série de ações não relacionadas que formam o seu destino, criado por ele, combinados e sujeitos ao olhar de sua memória e logo selados por sua morte. Assim, convencido da origem totalmente humana de tudo o que é humano, o homem cego, ansioso para ver, que sabe que a noite não tem fim, este homem permanece em movimento. A rocha ainda está rolando.

Eu deixo Sísifo no pé da montanha! Sempre se acha sua carga novamente. Mas Sísifo ensina a mais alta honestidade, que nega os deuses e ergue rochas. Ele também conclui que está tudo bem. O universo, de agora em diante sem um mestre, não parece a ele nem estéril nem inútil. Cada átomo daquela pedra, cada lasca mineral daquela montanha repleta de noite, em si próprio forma um mundo. A própria luta em direção às alturas é suficiente para preencher o coração de um homem.

Deve-se imaginar Sísifo feliz."
http://www.geocities.com/serouseja/camus/sisifo.htm
Albert Camus em "O Mito de Sísifo"

sábado, 3 de outubro de 2009

macho latino

tive uma pequena conversa recentemente com uma amiga, e ás tantas, por qualquer motivo, também me calhou o rótulo de "macho latino".

a coisa teria passado impune dado o ambiente de brincadeira em que se inseria o "piropo" se hoje não me deparasse com um artigo da MFM na revista do expresso exactamente com este titulo. não fosse aquela conversa e possivelmente não estaria a escrever sobre este assunto.

sinceramente fiquei baralhado e sem saber exactamente qual o conceito que se tem de macho latino no ano 2009. aparentemente está em extinção... tal como o lince da malcata mas apesar disso ainda ocupa lugares importantíssimos como é exemplo o 1º ministro berlusconi...

alem disso fiquei a saber que o macho latino é aquele que passa o tempo a fazer apreciações sobre o sexo oposto do tipo "ela é boa como o milho" ou "é da atar e por ao fumeiro" o que revela ao que parece o grau de imaturidade das conversas masculinas... e é claro que as mulheres nunca têm este, ou outro tipo de conversas equivalentes... falam concerteza dos problemas serissimos da vida que levam e das suas elevadas preocupações sobre o presente e o futuro da humanidade...

é claro que sendo homem, me insiro na categoria de macho, e tendo o português como língua materna sou inevitavelmente latino, não podendo negar nenhum dos grupos referidos estou irremediavelmente no conjunto que resulta da intercepção matemática destes dois grupos exactamente a dos "machos latinos".

sendo assim, na minha condição de macho, de latino, e de conversar com os amigos ou colegas de trabalho na hora do almoço sobre mulheres, faço parte dessa torpe que a MFM acha que está em vias de extinção... logo eu que estou aqui para as curvas e durar mais umas décadas...

apenas mais uma constatação da MFM... diz que ainda existem traços do Neandertal nestes espécimes. bonito. que eu saiba ainda não foi descoberta nenhuma espécie à face da terra apenas constituída por machos...quanto muito há aí umas hemafroditas.

portanto, um pouco de conhecimento de antropologia seria suficiente para saber que existem macho latinos na mesma medida em que existem fêmeas latinas, sendo estas tradicionalmente as principais educadoras dos seus rebentos, não antevejo uma extinção a prazo (se a acusação de macho latino se resume aos parágrafos anteriores).

resta-me ir à procura de uma fêmea latina que me compreenda... será difícil encontrar?

ps1: bem sei que o assunto apenas se destina a vender revistas...penso eu de que.
ps2: será que o gosto pelo sexo está a ser confundido com alguma caracteristica latina especifica ? e os outros, os germânicos, os saxões, os indianos, os asiáticos ? são o quê? não gostam de sexo? como é que se reproduzem?

terça-feira, 29 de setembro de 2009

glass ceiling

apesar da sua presença sempre crescente no mercado de trabalho as mulheres continuam minoritárias em lugares de chefia, há um conjunto de obstáculos a posições mais elevadas nas hierarquias profissionais. o fenómeno está identificado, chamam-lhe glass ceiling ou tectos de vidro, raramente são transponíveis e a ascensão na careira é em regra travada.

e todos sabemos distinguir as suas qualidades, são mais metódicas, mais concentradas, mais persuasivas são-lhes no entanto atribuídas menos responsabilidades, gerem equipes mais pequenas e são acantonadas em certas áreas, por exemplo nos recursos humanos ou na comunicação de imagem.

mesmo quando as suas carreiras são idênticas ás dos homens, tendem a patinar por volta dos 35 anos, por via da familia, dos filhos, da imagem, alteração de prioridades...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Nota de culpa

extracto da nota de culpa:

quatrocentas e trinta e uma mil setecentas e cinquenta e sete condenações por crimes contra a humanidade.
culpado com premeditação de vinte e cinco mil duzentos e quarenta e três sismos de grande magnitude (contabilizados à data) ou seja duzentos e quarenta milhões de mortos.
declarado moral e civilmente responsável de epidemias de peste e cólera,ou sejam cento e cinquenta milhões de mortos.
culpado de nove mil e seiscentas erupções vulcânicas (até a data) ou seja treze milhões de mortos.
culpado de noventa e oito milhões de inundações com premeditação (até á data) ou seja de cento e dois milhões de mortos.
apontado como responsável de vinte e oito mil tempestades, ciclones e tufões ou seja sessenta e cinco milhões de mortos.
autor confesso de sessenta e três milhões de relâmpagos que atingiram fatalmente dezasseis mil ovelhas e quinhentos e sessenta mil pastores.
culpado de setecentos e trinta e dois mil mortes por envenenamento devido à ingestão de cogumelos.
autor de publicidade enganosa. abandono do filho, e consequentemente sem direitos paternos.
responsável pelo delito de falta de assistência a mais de trezentos milhões de milhões de milhões de pessoas em perigo.

este é o nosso deus que tudo fez, que tudo controla e que tudo decide.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

na praia

linha ténue crepuscular
separa o dia da noite,
suaves ondas se espraiam
e esgotam em ciclos de espuma,
uma brisa de fim de verão
aflora-te a pele arrepiada,
rituais preguiçosos repetem-se
como um olhar no horizonte
efémero momento fugidio.

perto e longe fundem-se
na superfície desse olhar
onde adivinho pensamentos.
terei falhado a sequência
e perdido a sua essência?
terei o universo contra mim
se te pegar na mão ?

dez mil fotões de luz
por um sinal.



ps: vou de férias, divirtam-se sobretudo.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

tirando a espuma

Para além das noticias diárias que constituem a espuma da politica sensacionalista, das tricas, das rasteiras, das fugas de informação, da manipulação, dos corporativismos e dos interesses inviezados, existe uma outra politica de fundo e que assenta nalguns principios que me levam a votar e a votar sempre desde que tal me é permitido sem ter faltado a um único acto eleitoral:

1) sou a favor da europa, e do aprofundamento da integração europeia;
2) sou ateu convicto e contra a manipulação espiritual colectiva;
3) a favor do estado social em contraponto com o estado mínimo;
4) a favor das liberdades individuais, onde incluo o aborto e a eutanásia;
5) favorável à substituição da fontes de energia tradicionais por renováveis não poluentes;
6) favorável ao investimento em detrimento da paralisação e do miserabilismo;
7) contra o conservadorismo medroso e a manutenção dos status quo;
8) contra a forma de fazer politica assente no medo (do presente, ou do futuro);

parece-me claro em quem vou votar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

a arte

é a qualidade estética que nos faz reconhecer uma obra de arte?
sendo a estética relativa, subjectiva e a maior parte das vezes ineligível, sob este aspecto é sem dúvida indefinível, não há descrição consensual na história ou na filosofia do que é uma obra de arte.

apenas os juristas têm uma definição rigorosa elaborada por coleccionadores, conservadores e representantes do mercado da arte em total conhecimento de causa. O que se entende juridicamente por uma obra de arte não é mais que limitar-se a indicar objectos negociáveis e não abarca nem a literatura, nem a música nem as artes do espectáculo, nem tão pouco recorre a nenhum julgamento estético. toda a noção de qualidade está ausente.

uma obra de arte define-se assim por apenas dois critérios: ela é única e produz um numero limitado, ou ela deve ser obrigatoriamente fabricada ou controlada pelo artista.

portanto qualquer objecto não reproductível pode ser um arquétipo de objecto de arte, qualquer quadro medíocre é uma obra de arte qualquer que seja o julgamento pessoal que tenhamos sobre ele.

a sua qualificação como obra de arte não depende nem do estilo nem da época, nem da notoriedade do autor apenas tem que ser "original".

ora, ser "original" é uma noção complexa que engloba noções de novidade, autenticidade e unicidade. Sendo que a novidade e a autenticidade podem ser produzidas industrialmente resta a unicidade ou dito de outra forma as "fabricas de raridades"....

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ruas da cidade



ruas da cidade são como veias
vistas das ameias sem padrão
por mais que o olhar se perca
volta sempre ao seu coração.

muitas delas são sobranceiras ao rio
num equilíbrio permanente de desafio
ao efeito da gravidade mascarada
e destes tempos da erosão mitigada.

outras exibem geometria nos jardins
sombras e esplanadas de luxúrias afins
pedaços remanescentes doutra babilónia
fragmentos revisitados da mesma história.

há ainda vielas que são becos da memória
escadarias penosas e travessas de glória
atalhos da vida, confluência e divergência
irrevogáveis cruzamentos de simples anuência.

das que conheço em todas reconheço
os mesmos segredos de outras formas
das que desconheço curioso permaneço
embora sem a inquietude de outrora.

esta aqui tem um sentido, na outra não posso ficar
quantas dessas não duvido, preparadas para amar.
por cada uma percorrida, com outras novas me deparo
percorro-as mais depressa, na ânsia do teu amparo.

ruas da cidade de ti vazias
transformam dias em anos de solidão
porque enquanto te afastas retornas
em cada esquina ao meu coração.

.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

a vulgaridade

" a vulgaridade é a água forte da mediocridade. na ostentação do medíocre reside a psicologia do vulgar; basta insistir nos traços suaves da aguarela para se ter água-forte.

... é uma acentuação dos estigmas comuns a todo o ser gregário; apenas floresce quando as sociedades se desequilibram em desfavor do idealismo. é a renuncia ao pudor daquele que carece de nobreza. nenhum trabalho original a comove. desdenha o verbo altivo e os romantismos comprometedores. sua zombaria é pouco consistente, sua palavra muda, seu observar opaco...

... repudia as coisas líricas porque estas obrigam a pensamentos muito altos e a gestos demasiado dignos. é incapaz de estoicismos: sua frugalidade é um cálculo para gozar mais tempo dos prazeres, reservando maior perspectiva de gozo para a velhice impotente...

... admira o utilitarismo egoísta, imediato, pequeno, contado. posto a eleger, nunca segue o caminho que lhes indique sua própria inclinação, senão o que lhes marcaria o cálculo dos seus iguais. ignora que toda a grandeza de espírito exige a cumplicidade do coração...um pensamento não fecundado pela paixão é como um sol de inverno, alumia, mas sob seus raios pode-se morrer gelado...

...a vulgaridade transforma o amor da vida em pulsanimidade; a prudência em covardia; o orgulho em vaidade; o respeito em servilismo. leva à ostentação, à avareza, à falsidade, à avidez e à simulação..."

em "o homem medíocre" de José Ingenieros

terça-feira, 11 de agosto de 2009

os teus lábios

dos teus lábios guardo memórias
fragmentos que contam histórias
promessas vividas intensamente
transformadas em algo recorrente.

em teus lábios tom marron
se respiras ouço o som
se suspiras sou a causa
adivinho o beijo numa pausa.

os teus lábios doces de morango
perto dos meus num passo de tango
ensaiam danças coreografadas
abrem-se como num conto de fadas.

nos teus lábios macios de veludo
desespero e espero tudo
quando neles entrego os meus
quando nos meus encontro os teus.



ps: efeitos da silly season, em breve volto à prosa...

sexta-feira, 31 de julho de 2009

chamo-te imprudência

ouço-te entre dois cantos,
do grilo que me delicia
e do galo que me desperta
no resto escuto silêncio.

vejo-te entre dois mundos,
o imaginário que me extasia
e o real que me acerta
no resto observo sombra.

sinto-te entre dois toques,
o leve que me arrepia
e o brusco que me aperta
no resto abraço ausência.

cheiro-te entre dois aromas,
o puro que me inebria
e o sintético que me alerta
no resto inspiro solidão.

apesar da sombra do silêncio
e da solidão da ausência,
sei que te amo imprudência,
porque sou eu, porque és tu.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

sociedade hipertexto

um hipertexto é um conjunto de textos distintos unidos por palavras comuns ou nós que os interligam. É uma estrutura com várias dimensões mas onde cada texto tem a sua própria organização, a sua sintaxe e sua gramática.O Wikipédia é um bom exemplo de hipertexto.

sociedade hipertexto, é uma metáfora para o “individuo-palavra” onde o indivíduo é a ligação entre os espaços sociais onde se movimenta, o profissional com uma “sintaxe” no trabalho com os colegas, no espaço social familiar usando outra “sintaxe”, com os amigos do desporto, com os parceiros da blogosfera, etc.

mudamos várias vezes por dia de sintaxe, de um espaço social para o outro ligando e desligando conjuntos de códigos sociais e culturais diferentes, o vocabulário, os temas, a forma divergem. quem não presenciou um profissional durão que a meio de um reunião recebe uma chamada pessoal transformando-se em cordeirinho utilizando termos que por vezes roçam o hilariante de tão improváveis?

a possibilidade de se deslocar dentro de vários espaços sociais abre uma série de potencialidades que não estão de forma igualitária acessíveis a todos. A mobilidade física e virtual torna-se assim um elemento cada vez mais importante na formação das desigualdades individuais e sociais.

a multipersonalidade que resulta, capaz de se comportar de forma diferente consoante o ambiente que frequenta implica a capacidade de gerir vários “eus” e de se inventar personagens dentro de uma temporalidade e espaço múltiplos. Confrontados com uma variedade crescente do espaços-tempos é preciso deslocarmo-nos cada vez mais rapidamente uma vez que não temos o dom da ubiquidade, o único que nos garantiria a reunificação dos vários “eus”.


no trabalho, recebendo uma chamada familiar e escrevendo este texto... quase que os reunia a todos...

terça-feira, 21 de julho de 2009

esboço


desejo beijar-te as palavras
que me aceleram o coração
quero sentir a escrita
que flui da tua mão.

deitar-te em papel craft
para fazermos um draft
cada letra linha curva
cada espaço de compasso.

escreves profundo desejo
num canto que eu não vejo
e pões-me o nome na boca
como se estivesses louca.

papel dobrado e desdobrado
suspiro de paragrafo inacabado
tesão evidente em esboço
tão fácil, antes não fosse.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Corações gastos


"...Casou três vezes para se divorciar três vezes. A culpa era só dele que se cansava de ter estranhos corpos ao seu lado. Não entendia a sua vida quanto mais a dos outros e o que começava como companhia acabava em tédio assegurado. Por vezes fala com elas por telefone. Nunca se esquecem do seu aniversário e telefonam-lhe. Uma delas manda-lhe flores, estrelícias, as suas preferidas. Nunca discutiam, viviam uma vida confortável e depois diziam que partiam, que queriam ter uma família, filhos que crescessem..."

Pedro Paixão em "Os corações também se gastam"

Abri o livro nesta página... obrigou-me a ler mais algumas... interessante.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

palavra e gesto

arrependido da palavra dita
irreflectida imatura e inacabada
conjugada de forma imperfeita
dissonante da ideia fundada.

mal entendido bem entendido
feito impossível de desfazer
realidade que se ganha perdendo
ilusão que se perde ganhando.

antes prevalecesse silencio
em vez das palavras faladas
rastilho para outras anunciadas
desfazendo alegrias partilhadas.

passados velozes desfilam
presentes venosos destilam
futuros airosos ruíram
fruto da irracional racionalização.

sonhadores, ganhadores, perdedores
ressaca, amuo, sofrimento
sucede-se o dia a noite e do nada
surge o gesto, a luz e a alvorada.

toque subtil gera arrepio
proximidade quanta intimidade
amor ganho no esquecimento
entrega dispensa entendimento.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

minuto anti prosa

estou teso e pronto, enquanto,
de actos libidinosos fazemos projectos
em pontas de línguas molhadas de afectos
durezas pontuadas suavizadas por gestos.

vou fundo no teu ventre arqueado
desejo renovado desde a puberdade
mãos percorrem, sensações ocorrem
capta o momento flash e movimento.

articulo palavras nada candentes
poderias sentir por te sentir quente
quero que não queiras, ficas pendente
e troças de mim injurias ausentes.

solto-te a língua em colos e regaços
roço-te as carnes apalpo os espaços
sinto-te nos bicos depressa hirtos
descontrolo-te o tino já descontínuo.

é todo teu, desmepertence
é toda minha, desmerecida
é tudo nosso, temporariamente
é de ninguém, definitivamente.

somos egoístas à vez
somos altruístas talvez,
procuras descargas de ondas eléctricas,
procuro jactos de combustão instantânea.

hora de prosa

sei que gostas de fazê-lo crescer na boca, mas hoje já estou pronto.

os teus olhos olham-no e não escondem o prazer que a tua mente adivinha, encostas os lábios entreabertos e a tua boca experimenta a sua dureza, sabes como dar prazer, não é difícil, gosto confesso, gosto da forma aguçada que a língua toma quando o encontra totalmente exposto, de como fica molhado e de como a tua mão me segura plena de caricias.

a minha língua fica ansiosa. o meu olfacto alerta, ambos procuram a essência em cada poro até se fixarem teimosamente nesse pedacinho de paraíso. sei muito bem como devo gerir a pressão e o toque, conheço os sinais, as contracções, onde reside esse coração alternativo onde os meus dedos se devem perder procurando, e sei que não é preciso muito...

introduzo enfim devagar, muito devagar, parando mesmo, sentindo mas resistindo ao chamamento do teu interior, centímetro a centímetro num longo percurso que vou fazendo olhando-te nos olhos, vendo a expressão do teu rosto, a boca molhada implorando mais, o prazer reluzente nos olhos e o ventre sôfrego e palpitante, viras a cabeça de olhos fechados como que a quereres captar sensações, gravá-las em memórias, enquanto te sentes cada vez mais cheia, preenchida e molhada.

ritmo e movimento, entrando e saindo no calor e na humidade do teu canal suculento, caminho que conduz ao fundo de nenhures e simultaneamente a todos os locais mais recônditos do desejo sempre imaginado e fabricado desde a adolescência.

entre os nossos ventres sinto-te quente, tão quente que poderias gozar se quisesses, troçar do mundo inteiro abandonada à luxúria, mas eu quero que ainda não queiras e reduzo, e alterno o ritmo, e reduzo outra vez, digo-te ao ouvido as coisas mais abomináveis que jamais diria se não estivesse embriagado de tesão... quase que me amaldiçoas ao mesmo tempo que me desejas ainda mais...

sentada no meu colo, os teus braços envolvem-me o pescoço, mãos percorrem as tuas costas, por vezes agarram-te a nuca por baixo dos cabelos puxo-te a cabeça para trás e as nossas línguas encontram-se, agarro as nádegas , beijo os seios de bicos hirtos puxo-os mais para fora com a língua enquanto te olho nos olhos, aperto o teu corpo e sincronizo-o com o meu num movimento único alternando a velocidade, reduzo-a drasticamente, sadicamente, quando te sinto descontrolada.

queres mais, eu sei, estavas perto, recosto-me até ficar deitado, sentada és agora dona e senhora da situação, e digo-o para o saberes, é todo teu, por momentos agarro a tua cintura e ajudo-te no movimento para logo abrir os braços, liberto-te completamente e és tu que deves impor o ritmo no teu tempo, deixar o prazer entrar e invadir-te, é altura de seres egoísta e desfrutares completamente do brinquedo dentro de ti.

abusa assim dele descontroladamente com toda a sofreguidão que precisares à medida que o teu cérebro é invadido e é todo ele pensamento fálico, sensações únicas num vai vem sensorial difuso que te percorre o corpo e finalmente sem conteres os teus sons misturados de respiração intensa o teu corpo electriza-se... e explode descarregando toda a energia acumulada em ondas sucessivas de puro prazer até ficarmos imóveis colados pelo suor dos nossos corpos sentindo o batimento dos corações e o sangue a correr contribuindo para cada contracção muscular que forço ainda dentro de ti, sinto-te assim sensível, a vibrar mais um pouco de cada vez.

viro-te e reviro-te de dois de três e de quatro, agarro a tua cintura, puxo-te para mim até ao fim, passo a minha mão pelas tuas costas agarro o teu rosto e fico assim imóvel de joelhos vendo os teus movimentos aumentarem num vai e vem curto e longo até se tornarem frenéticos quase descoordenados, o teu corpo muda de direcção forçando-me a pressionar alternadamente pontos diferentes até te concentrares naqueles que te dão mais prazer, partes para outra dimensão...

peço-te para te alongares de bruços, o meu corpo desce de encontro ás tuas costas afasto o teu cabelo e beijo a tua nuca iniciando os movimentos que sei que me levam ao fim. sou egoísta o que é que queres? agora o suor escorre-me pelo corpo enquanto me movimento desesperadamente mantendo-te presa, imóvel, na minha uretra já há muito cheia de fluídos passa o primeiro jacto, o primeiro foguetão de combustão instantânea... seguem-se duas ou três réplicas, quase que doí, não sei, a uma dor tão boa assim não se pode chamar dor.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

vida circunstancial

"o homem nada mais é do que o seu projecto; só existe na medida em que se realiza; não é nada além do conjunto de seus actos, nada mais que sua vida"
Jeam Paul Sartre

ando com pouco tempo para realizar o meu projecto, escravo dos prazos, escravo do tempo, escravo das circunstâncias, será que estes outros actos não tão voluntários também contam, ou só eles acabam por contar.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

o melhor dos mundos

o melhor dos mundos seria aquele que satisfizesse tão breve quanto possível todos os nosso desejos, necessidades e caprichos... seria necessário não só espaço mas também um tempo a n-dimensões que incluísse todos os actos e experiências incompatíveis que passariam a andar conjugadas tais como, gastar dinheiro e mesmo assim enriquecer, estar de férias e apesar disso ter uma vida profissional de sucesso, caçar e pescar sem ferir os animais, acumulando experiência e sabedoria conservando a frescura da juventude, e por aí fora...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

eficácia do não-agir


um dos ensinamentos do mestre lao zi pretende que quanto melhor souber tirar partido de um processo e dos factores que o determinam e o contêm menos tem necessidade de agir. agir é influenciar a realidade em função de um projecto ou de um desejo, corresponde a forçar algures as coisas.



este não-agir não significa passividade mas sim uma forma de se colocar em sintonia com o processo, encontrar os factores favoráveis e explorar o potencial da situação. no vietnam os americanos utilizaram uma estratégia de batalha organizada e soçobraram perante a estratégia de desestruturação e de guerra psicológica... se o inimigo chega descansado, começa por cansá-lo, se chega unido, começa por desuni-lo, se está saciado, esfomeia-o, não o destruas, mas inicia um processo de desestruturação, condiciona-o de tal forma que quando o atacares já estará vencido.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

via lactea

john marten cirurgião e charlatão publicou em 1712 "onania ou o pecado odioso da poluição de si mesmo" livro que conheceu um sucesso fulgurante, onde acusa a masturbação de todos os males: perda de faculdades individuais, envelhecimento precoce, loucura, tuberculose...

esta condenação teve eco em médicos, em kant, rosseau, voltaire, em enciclopédias ... tornou-se numa ameaça paradoxal no momento em que se dá a reviravolta para a modernidade nascente que valoriza a imaginação, o excesso e a intimidade... o masturbador é visto demasiado moderno, descontrolado e incontrolável, representando, de certa forma, uma ameaça para a sociedade e é assim denunciado.

claro que a igreja se coloca do lado da proibição dos prazeres terrenos onde a única virtude é a castidade absoluta e a finalidade de vida é a sua própria expiação em nome da promessa paradisíaca do além com a ressurreição da alma.

um longo percurso pois até ás batalhas do femininismo (a libertação sexual) ao direito do prazer a solo das mulheres e ao vibrador, porque os homens esses continuaram impunemente a esgalhar o pessegueiro.

a nossa relação (dos homens) com os sex-toys é no entanto curiosa para não dizer contraditória. se porventura os aceitamos como catalisadores sexuais femininos, se gracejamos e os aceitamos em grupo restrito em sinal de modernidade, e temos curiosidade em relação a eles, essa curiosidade e aceitação não passa a maior parte das vezes a porta da nossa própria casa.

e se as mulheres reconhecem o clitóris como a parte mais importante do corpo na estimulação sexual, continuam a considerar a penetração como o acto central para o seu parceiro apesar do pouco talento dalguns em estimular simultaneamente o clitóris. os sex-toys ajudam a resolver este dilema permitindo a estimulação clitoriana durante a penetração.

"os homens não servem para nada mas mesmo assim gostamos deles"

talvez seja esse o medo masculino que se esconde na aceitação destes objectos. mas mesmo por parte das mulheres, as bolas de geisha, por exemplo, são igualmente recebidas com perplexidade, nem fálicas nem vibrantes, são incompreensíveis por requerem uma vagina activa ao solicitam alguns músculos apenas treinados em aulas pré-parto... uma pena, um desperdício.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

o sapo e a cerveja

"... um recente anúncio publicitário inglês enaltecendo os méritos de uma marca de cerveja mostra até que ponto o mal-estar da diferença sexual penetrou nas nossas consciências.

a primeira parte encena um conto de fadas muito conhecido: uma jovem caminha ao longo de um rio, avista um sapo, leva-o ao peito, dá-lhe um beijo e, evidentemente o sapo feio transforma-se, como por milagre, num belo moço.
mas a história não acaba aí. o moço lança um olhar cobiçoso para a jovem, atrai-a a si, beija-a, e a jovem transforma-se numa garrafa de cerveja que ele brande triunfalmente...

no que diz respeito à mulher, o seu amor (indicado pelo beijo) faz do sapo um belo homem, uma presença fálica plena e inteira... em compensação o homem reduz a mulher a um objecto parcial, causa do desejo...

... o que nunca obtemos é o par "esperado" da linda jovem com o belo moço, porque o suporte fantasmático desse "par ideal" teria sido a figura inconsistente de um sapo beijando uma garrafa de cerveja."

em, a subjectividade por vir - Slavoj Zizek

sábado, 6 de junho de 2009

boa morte

uma japonesa idosa decide um dia morrer nas encostas geladas do monte marayama.
na tradição desta região pobre, as pessoas que atingem 70 anos suicidam-se desta forma. esta senhora não tem ainda essa idade mas, mesmo assim, decide morrer. não age por desespero mas para deixar lugar à sua filha e à sua segunda neta que está para nascer.
será esta uma morte desejada?

esta história de eutanásia, de boa morte, mostra que não é apenas uma questão moral como muitos a querem reduzir discutindo detalhes técnicos e jurídicos e condenando quem a acciona, é também uma questão cultural e social.

quando mais de 70% das mortes se dão em hospitais, numa altura em que algumas funções vitais estão irremediavelmente diminuídas e a sobrevivência dependente de assistência medica pesada, gostaria de saber que chegado a esse estado poderia preservar a minha dignidade e partir tranquilamente.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

emoções negativas


desabafar, pensar noutra coisa, ouvir música, afastar-se da fonte do problema, ficar só, tentar perceber a situação, descansar, fechar os olhos, tentar dormir, fazer desporto, ler, escrever, arranjar um hobby, ir ao cinema, rezar ou meditar, beber, são todas estratégias mais ou menos espontâneas que utilizamos para lidar com as nossas emoções negativas, a tristeza da perda, a cólera ou o medo.

assentam todas na recusa da experiência emocional, afastar a tristeza, negar a frustração, mesmo recusar a felicidade para não ter que sofrer com o seu fim posterior, adiamos, depois continuamos a ruminar.

o oposto consiste em "tirar o vapor à panela de pressão" antes que ela expluda, um condutor enraivecido no meio do transito, baixa a cólera gritando, batendo em algo, mas parece-me que também não é solução... depressa frustrações posteriores necessitarão de mais violência.

a solução? usar bem as emoções procurando partilhá-las com a razão. aceitar, essa palavra fácil de dizer e difícil de concretizar, aceitar enquanto experiência sem julgamento, sem antecipação nem ruminação, exercitando a atenção no presente e procurando viver emoções positivas.

o espírito reina... mas não governa.

domingo, 31 de maio de 2009

vinho, muito

há aqueles almoços onde um dos convivas aparece como especialista em vinho e que, na hora de provar, consegue dissertar longamente sobre o sabor, o corpo, a substância, o aroma, a região, as castas, a cor, sei lá e lá temos que gramar com a descoberta recente daquele vinho que é o melhor do ano, que anda no mercado com a melhor relação qualidade preço enfim por ai fora, basta dar um pouco de corda ou dar entender que somos leigos mas interessados no assunto, e lá vem o discurso apropriado...

algumas vezes é um conhecimento bastante genuíno outras, provavelmente a maioria, não. nota-se um certo discurso padronizado, uma certa unanimidade, e uns certos tiques (olhar a transparência, rodar o vinho, cheirar, bochechar. esse "savoir faire" ao fim de algum tempo é detectável, mesmo a quem não ande atento, até parece tirado de um curso intensivo...

o marketing e os prémios, nestas coisas têm um papel fundamental, se entre 1000(?) marcas de vinhos, houver um concurso onde participam 10, um deles sai com a medalha de ouro sem competir com os outros 990...

bastantes anos atrás li uma história verídica que, algo cinicamente me atrevo a contar por alturas da sobremesa, quando as virtudes do néctar voltam a ser assunto de eleição, sem antes deixar de falar claro nos resultados desastrosos da maioria das provas cegas:

um estudo sobre o léxico utilizado pelos provadores profissionais para classificar um vinho revelou que o vocabulário apenas variava em função de um único factor, a cor. se se trata de um tinto será descrito preferencialmente com tendo apontamentos de "maduro", "frutos vermelhos", "cereja", "amora", "frutos silvestres". pelo contrário os brancos serão classificados como contendo frutos claros "frutos brancos", "limão", "lichias"...

a malandrice foi dar a provar vinhos brancos previamente colorados para parecerem tintos e vinhos tintos colorados de branco... e tal como se depreende o vocabulário mudava com a cor de vinho...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

a inteligência tem sexo?

as raparigas são mais tagarelas, e os rapazes sabem melhor orientar-se no espaço.
quem não viu infindáveis listas de porque homens e mulheres são como são? normalmente atribui-se uma razão histórica, os homens ocupados pela caça desenvolveram certas aptidões de referenciação espacial e as mulheres com a prol a seu cargo desenvolveram melhor as capacidades da linguagem.

no entanto o QI médio de homens e mulheres é o mesmo: 100 pois claro.

o peso dos estereótipos, da família, da sociedade e da cultura é que criam a diferença entre os cérebros de homens e mulheres, à partida são iguais, é a sua plasticidade que permite a diferenciação, a mesma plasticidade que é responsável pela diferença entre o cérebro de um jogador de rugby e o de um pianista.

nas sociedades baruyas da nova-guiné as mulheres não têm o direito de subir ás arvores e portanto não sabem subir. para os baruyas se elas não o sabem fazer é porque são por natureza incapazes...

terça-feira, 26 de maio de 2009

porquê ateu

o que desprezam as três grandes religiões monoteistas ocidentais:
odio à razão e à inteligência
odio à liberdade
odio aos livros em nome de um só
odio à vida
odio à sexualidade das mulheres
odio ao prazer
odio ao feminino
odio ao corpo
odio aos desejos e às emoções
são tudo coisas que amo...

e vez de tudo isto colocam:
crendice
obdiência e submissão
gosto pela morte e paixão pelo além
castidade e anjos axessuados
virgindade e fidelidade monogamica
esposa e mãe
alma e espirito

ou seja a vida cruxificada e a celebração do que há-de vir.

sábado, 23 de maio de 2009

livros favoritos

o perfil é um dilema. que livros, filmes e musicas é que ponho aqui? o que é um livro favorito? é um livro que se leu várias vezes? é um livro que nos marcou? é um livro que gostamos? é a mistura de a com b, de b com c, de a com c ou de a com b e com c?
não sei, mas acho que faz sentido falar daqueles que marcaram e que de uma forma ou de outra moldaram a minha forma de pensar:

o primeiro foi na infância, o livrinho da catequese, tinha umas ilustrações curiosas para não dizer intrigantes, na primeira aula, não me lembro porquê desatei a fazer perguntas à cataquista. foram de tal ordem que levei duas valentes bofetadas, suficientes para nunca mais lá pôr os pés. mais tarde tive um amigo na escola secundária, tinhamos discussões bem acesas, a mim já me corria nas veias um certo ateísmo que descambou em radicalismo, a ele corria-lhe o teísmo que o colocou no seminário, e fez dele padre. desculpa lá antónio, não foi de propósito, custa-me imaginar-te numa vida inteira de celibato... e tudo graças aquele livrinho mentiroso.

o segundo livro a deixar marcas foi quando fiz 13 anos, foi um presente de anos da luisa, uma alma com quem nunca troquei uma palavra. em contrapartida trocávamos muitos olhares nos corredores da escola e no autocarro da "carreira".
ainda hoje me lembro daqueles olhos negros lindos muito grandes, daqueles cabelos pretos compridos brilhantes e do sorriso daqueles lábios grossos que mostravam os dentes brancos perfeitos, uma paixão juvenil correspondida, acho, mas totalmente platónica.
entregou o livro ao meu irmão com uma dedicatória, uma mistura de timidez e imaturidade impediu-me de lhe agradecer, chamava-se viagem ao mundo a droga, em 75/76 foi uma autêntica pedrada no charco, acho que me foi tremendamente eficaz para superar uma serie de desafios que se seguiriam.
ela provavelmente pensou que eu era um idiota, e pensou bem. depois daquele ano, nunca mais a vi, mas aquele livro, aquele gesto, perseguiu-me sentimentalmente toda a vida.

a seguir veio a fase da biblioteca itenerante da gulbenkien, a carrinha passava lá na aldeia uma vez por mês carregada de livros, claro inscrevi-me e fui leitor desde a primeira hora, tudo de graça, lia 4 ou 5 livros por mês, um autêntico serviço público, os dois velhotes aconselhavam-nos os livros adequados para a idade mas o sentido já estava noutras preciosidades. foi esse sentido que me levou a ler a triologia de henry miller, sexus, nexus e plexus aos catorze anos, uma sorte e uma riqueza literária para descobrir o mundo do sexo, das relações sexuais e da natureza intima dos homens e das mulheres...

os anos seguintes foram literariamente confusos, o vicio dos policiais, comprados e trocados num afarrabista que existia ali no Saldanha numa arcada de um prédio, que depois devorava à noite até de madrugada, alguns romances que me emprestavam, genero que já pouco apreciava e que a leitura obrigatória dos Maias só veio agravar, e kilos e kilos de lixo tipo os mistérios da ilha da pascoa, extraterestes, astrologia, isoterismo enfim todos os barretes que passados 30 anos continuam nos escarrapates das livrarias sempre renovados e reescritos.

a partir dos 19, 20 anos mergulhado em livros tecnicos emergiu finalmente a curiosidade pelas coisas "sérias" história, filosfia, e divulgação cientifica. destes, um deles, o gene egoista de richard dawkins foi fundamental para moldar daí para a frente a minha forma de pensar, finalmente todas as peças do puzzle, todas as noções dispersas fizeram sentido, todos os comportamentos passaram a ter uma lógica, a história dos homens embora sem sentido passou a ter sentido... se é que isto faz sentido.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Arte












uma foto de um crucifixo mergulhado em urina;
unhas envernizadas com sangue de um morto;
lavar os pés dos visitantes e fazer-se baptizar com essa água;
limpar os sapatos tendo por tapete a bandeira do país;
defecar em público;
banhar-se em ketchup com uma boneca enfiada no rabo;
foto da cara coberta de excrementos;
animais cortados transversalmente conservados em formol;
pornografia, tortura, morte, sangue, liquidos corporais.

o que é que isto tudo tem em comum? é arte.
pelo menos é isso que nos dizem os seus autores.

a busca da indignação e da provocação é o sintoma pretendido para medir a originalidade da obra. a hostilidade do público faz parte integrante do jogo, um jogo no limite entre o legal e o clandestino, quando o jogo que se joga é a procura dos holofotes.

em 94 um artista marselhês bombardeava turistas com ovos e farinha enquanto os filmava com o objectivo de fazer uma "escultura social". depois da apresentação de queixas à policia por parte de algumas vitimas, foi condenado, um ano depois, a uma multa de 2000 euros no mesmo dia em que era inaugurada a exposição.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Arlequim

Fiz um gesto obsceno, vulgar, um pouco irreflectido... depois levantei a cabeça e reparei que alguém estava ali e viu. Apercebi-me de repente da vulgaridade do gesto e fiquei envergonhado.

Lembrei-me daquela máxima de J.P.Sartre "o inferno, são os outros". Se o olhar dos outros é na maioria dos casos inofensivo, pode também tornar-se angustiante transformando-nos em objectos sujeitos a um julgamento constante.

Se esse olhar nos dá por vezes suores frios, é no entanto essencial para a construção da nossa própria identidade e para que a exterioridade do mundo seja verificada, não seja uma ilusão, a ilusão e a alienação em que Robinson Crusoé naufrago na sua ilha deserta, mergulhou.

É também nessa falta do olhar dos outros que mendigos se deixam progressivamente desaparecer no fundo de um túnel do metro ou numa esquina da vida, e que doentes e idosos esquecidos morrem no canto da solidão e da indiferença.

É a busca desse olhar que nos faz interagir socialmente buscando a aprovação dos outros, a forma de vestir e de estar, de dizer, de pensar, buscando sermos reconhecidos, nem que seja também em forma de arlequim feito estátua.

sábado, 16 de maio de 2009

Somos águias

Encontrei este texto que acho que é sobejamente conhecido:

A águia pode viver cerca de 80 anos.
Ela depende, na maioria dos casos, somente dela para sobreviver todo esse tempo. Entre os 40 e 50 anos de idade a águia precisa passar por uma série de transformações, que a levarão ao sofrimento extremo para que possa sobreviver. Ela sobe até o alto das montanhas, onde se sente mais segura, e começa todo o processo para a renovação. Primeiro a águia começa a arrancar toda a sua pelagem, pena por pena, com seu próprio bico, pois as penas já estão velhas, no que resulta a perca de aerodinâmica. Passado um mês toda a sua pelagem já está nova para voar em perfeição. Em seguida começa a quebrar suas unhas, velhas demais para segurar suas presas; elas tiram até a raiz para nascerem unhas mais fortes, parecidas com as de sua primeira caçada. Após um mês de recuperação e crescimento das novas unhas, a águia ainda precisa passar pela parte mais difícil do processo que é a quebra de seu bico, muito velho e envergado que dificultam para pegar sua presa. Ela bate o seu bico por diversas vezes com todas suas forças restantes, já que ela está muito debilitada por todas as dificuldades passadas no processo de mudança, até que ele se quebre e caia. Somente após um mês é que o novo bico estará forte para voltar a ativa, e a águia pronta para enfrentar novamente todas as dificuldades deste mundo.
Nós seres humanos somos iguais às águias.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Analfabetos

E se de repente não soubéssemos ler?
Como fazer as compras no supermercado, tomar o metro, preencher um impresso, ver um filme legendado, tantas coisas que fazemos sem pensar que passariam a ser autênticas tarefas titânicas com dispêndio considerável de energia e de tempo, se não quando impossíveis de realizar.

O analfabetismo, na nossa sociedade é claramente uma falta de liberdade não só de ler mas também representa a supressão de todas as outras liberdades que dependem da leitura, no entanto, do ponto de vista da liberdade individual, de quem não pede e não tem desejo de deixar de ser analfabeto, a imposição de alfabetização pode ser vista, conforme defende uma certa visão anarquista, como uma violação dessa mesma liberdade.

Generalizando e saindo da orbita do exemplo, contrariamente ás liberdades formais, os direitos sociais não são verdadeiros direitos, estão mesmo em antítese uma vez que exigem a imposição de obrigações positivas que constituem uma violação dos direitos individuais.

Assim podem, os políticos, junto das populações e do eleitorado, que nada pediu, justificar o seu conservadorismo apoiado no avesso natural à mudança, ou omitir as suas politicas publicas, ou melhor a falta delas, e esgrimir furiosamente contra a imposição de mais obrigações sociais.

Afinal da contas não somos indivíduos morais animados de preocupações sobre o bem comum, ou sobre um interesse global. Antes pelo contrário, como me disse um colega há dias "eu até concordo com a maior parte das reformas, mas não voto naquele "malandro" que me aumentou o IRS de 40 para 42%", revelador.

A Beleza

Pâris filho do rei de Troia, foi encarregado por Zeus de escolher de entre as deusas do Olimpo aquela que deveria receber uma maça de ouro com a inscrição "à mais bela". A escolhida foi Aphrodite a deusa do amor, que em reconhecimento ao seu novo protegido prometeu-lhe o amor da mais bela das mortais, Helena, que estava casada com o rei de Esparta, Menelas.
Foi portanto pela beleza de uma deusa e de uma mortal que se iniciou a guerra de Troia.

A beleza, quando é sublime, assalta-nos, submerge-nos e quebra as nossas defesas. É fatal, turbulenta, inspirou todos os clássicos, os contos da fada, inúmeros romances, os filmes e cria as deusas do cinema.

Desde a escola primária os alunos mais atraentes são previligiados pelos professores e pelos seus colegas. Profissionalmente a diferença de salários e de oportunidades entre os belos e os feios tem uma dimensão insuspeita.
A beleza é uma espécie de diploma, ou pelo menos de passaporte ou de capital humano que o mercado de trabalho reconhece facilmente.

A associação insconsciente entre beleza e valor, entre pureza dos traços e da alma, altamente evidenciada pela literatura é apenas um jogo desta forma de descriminação positiva, quase completamente inconsciente.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Teroria da Escada

Encontrei isto:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_escada

"A teoria da escada, ou T.E., é uma explicação, baseada na sabedoria popular, de como homens e mulheres avaliam membros do sexo oposto baseando-se em primeiras impressões. No modelo de T.E., essa decisão é tipicamente feita de forma rápida e decisiva, determinando o potencial da outra pessoa como um futuro companheiro"


Se bem que é uma teoria redutora, não deixa de conseguir tocar alguns sinos para os quais parecia já ter tido uma intuição qualquer, como por exemplo detestar ser catalogado como "um amigo" por perceber que nunca mais teria qualquer hipótese de passar para a outra escada...

Se bem que hoje, com o advento das amizades coloridas, aparentemente os homens troquem constantemente de escada... não há mulher que se preze que não traga na sua malinha um conjunto de "lápis de colorir" com sabor a morango... me parece mesmo assim que esta teoria continua em parte válida, não há trocas de escada há é o recurso a níveis mais baixos da escada.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Bem ou Mal

Se puseres uma nova comida na boca não tens de decidir se ela é ou não saborosa, sabes simplesmente. Não tens de decidir se uma paisagem é bonita, sabes simplesmente. Quando vês uma mulher pela primeira vez não tens que decidir se ela é "comestível", sabes simplesmente (este exemplo é infeliz, machista, eu sei).

Como é que seríamos, sem os 10 mandamentos, sem as religiões, sem o pretenso monopólio que elas se arrogam sobre a moral, seríamos bárbaros e cruéis? já estaríamos mortos, extintos? Ou pelo contrário estaríamos bem, recomendáveis e de saúde?

Eu inclino-me mais para esta segunda hipótese, na medida em que a moral não resulta de uma doutrina pensada e imposta racionalmente a uma urbe, mas simplesmente está lá, faz parte da nossa intuição e das nossas emoções, o choque é a nossa primeira reacção emocional quando deparamos com algo que contaria o nosso sentido de sobrevivência tanto individual como de grupo, não precisamos de decidir o que é moral, simplesmente sabemos o que é.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Factor x ou y

“O pedido de igualdade de reconhecimento implica que, quando despojamos alguém de todas as suas características contingentes e acidentais, resta uma qualidade humana essencial merecedora de um certo respeito – digamos o factor X. A pele, a cor, a aparência, a classe social e a saúde, o género, o pano de fundo cultural e até os talentos naturais de cada um, tudo isso são acidentes de nascença relegados ao nível de características não essenciais. (...) Mas, no domínio público, somos chamados a respeitar as pessoas de modo igual, com base no factor X que elas possuem”
Francis Fukuyama

Dei com esta reflexão, que me levou a outra, se calhar por sermos idealmente todos iguais no plano dos direitos, procuramos um contraponto, um factor de desigualdade Y que nos eleve à categoria de únicos enquanto indivíduos, ou nos saliente uma diferença ou originalidade, um modo de vida ou uma vantagem qualquer.

Embora fosse uma criança no período pós Abril de 74, recordo que o espírito da revolução pairou durante algum tempo e nessa altura (efémera é certo) X era muito maior que Y.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Era do Individuo

Somos o quê nesta «era do individuo»? Metrossexuais, hipermodernos, excessivos, obcecados...o que é que hoje somos, e o que é que deixamos de ser?

Cuidamos mais do aspecto exterior do corpo, o corpo é uma preocupação central, basta visitar as nossas cidades para detectar a sua omnipresença, boutiques, lojas, produtos cosméticos, centros de estética, tatuagens, ginásios, novos medicamentos e novas técnicas cirúrgicas para o melhorar e alterar. Em poucas décadas passamos do corpo dominado pela natureza para o corpo auto-modelado não só na sua aparência exterior mas também no seu interior, desde que eliminamos as dores e o sofrimento (já nem sequer nos lembramos que até aos anos 40 e 50 os médicos eram impotentes para o seu alivio).

Por todo e lado nos dizem que "tempo é dinheiro" por isso queremos dominar o tempo, tudo passou a ser urgente, tudo é sempre tão urgente, que a urgência passou a ser a norma, a tecnologia permite-nos fazer mais coisas... mas temos que fazer muito mais coisas no mesmo tempo, e o tempo social rarifica-se. O telemóvel, os mails e a internet dão-nos o sentimento de poder vencer o tempo e de o poder dominar, uma vez que estamos ali «contactáveis» mas é pura ilusão. O tempo cadenciado marcado pelo ritmo das estações e das colheitas, do Inverno e do Verão, foi comprimido e tornou-se um tempo instantâneo.

Passamos assim a viver também de relações flexíveis e efémeras, a existência subjectiva torna-se dependente do exterior, está subordinada à relação com os outros, a fluidez e a flexibilidade dos sistemas económicos actuais impõem o imediatismo que passa para a instantaneidade das relações, deixamos de ter a capacidade do compromisso a longo prazo, o nosso carácter foi corroído. Mesmo na educação dos jovens lhes dizemos que o que conta é a capacidade de adaptação e de mudança, que já não há empregos para a vida. As relações começam tão depressa como acabam e somos actores que desempenhamos papeis múltiplos simultâneos.

Queremos mais, cada vez mais, jogamos no limite, na hiperactividade, abandonamos o equilíbrio característico do homem honesto e de família do passado, pulverizado pela abolição dos corpetes nos anos 30 e pela queima dos soutiens nos anos 60, vivemos a 200 à hora numa explosão sensorial, do gozo imediato e dos excessos de álcool, drogas e sexo.

Nesta aceleração de um tempo pulverizado, o aqui e agora sobrepõe-se ao eterno desfazendo o conceito de deus, resta espaço para um deus instantâneo alojado no interior da consciência e que com ela se confunde, somos o nosso próprio deus.

Alexis de Tocqueville, no seculo XIX foi premonitório "... no momento em que eles desesperam para viver uma eternidade, estão dispostos a agir como se não houvesse amanhã..."

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Micro Pénis

Extensores mecânicos para o pénis permitem aumentar o seu tamanho em 32% em repouso e 36% em erecção, proeza conseguida por médicos da universidade de Turim, à custa de muita paciência e algumas dores provocadas pelo uso de um aparelho extensómetro 4 a 6 horas por dia durante 6 meses.

O que mais me impressionou nesta noticia foi o conceito de "micro pénis" universo ao qual parece ser dirigida a terapia.
Se mais 30% num instrumento com 15 cm é passar de algo vulgar para uns invulgares 20 cm, já os mesmos 30% em algo de 5 cm ou seja passar a ter o comprimento vertiginoso de 6,5 cm me parece chover no molhado. Ou não?

O conceito de “repouso” ou seja a forma politicamente correcta de dizer “murcho” também, confesso, nunca me tinha assolado o espírito. Nunca mais vou poder dizer “estou a repousar” da mesma forma que o disse até aqui.
Nem nunca mais poderei dizer “que tenham um fim-de-semana repousado”

Etica Financeira

Face ás convulsões económicas que atravessamos faz sentido continuarmos a apostar em mais do mesmo?
As empresas têm valor ético? As pessoas têm mais direitos que as empresas?
Á primeira vista a resposta parece ser, não.

Nos anos 70 as coisas eram simples, quanto maior era a empresa maior os salários dos seus dirigentes, por isso esses gestores, PDG´s, President Directeur General, procuravam maioritariamente fazer crescer as suas empresas diversificando as aquisições e construindo impérios. Esses conglomerados eram o modelo de empresa da época.

Nos anos 80, surgiram as empresas especializadas em Oferas Públicas de Aquisição hostis, OPA´s, que depressa passaram a ser a nova elite, e cujo papel consistia em adquirir os conglomerados anteriormente constituídos e de seguida proceder à venda das suas actividades periféricas, para fazer crescer o seu valor em bolsa.

Estas operações requeriam o recurso a investidores institucionais que incitaram as empresas a se concentrar numa única actividade em detrimento da diversificação, reservando-se a eles próprios o papel de gestão de carteiras, e ás empresas apenas a gestão da sua competência especifica, abrindo assim as portas á deslocalização.

Os gestores destes fundos de investimento exigiram aos PDG´s que se concentrassem no valor em bolsa já que a sua remuneração dependia do crescimento do valor das suas carteiras, encorajando simultaneamente os conselhos de administração a indexar a remuneração dos PDG´s ao valor das respectivas acções. As "stock-option", ou seja, largas fatias da empresa, surgiram assim como complemento de remuneração, permitido a sua venda a preços correntes com preços de aquisição do ano anterior... simples.

Nos anos 90, o numero de analistas financeiros explodiu... para além do simples facto de trabalharem para bancos com interesses em empresas que eles próprios eram incumbidos de avaliar, geralmente eram competentes apenas num único sector de actividade mas acabavam por influenciar muitos outros. A estratégia dos PDG´s passou a ser a de se fazerem notar por estes analistas como forma de influenciar o valor as suas acções em bolsa.

Os ganhos passaram a ser estimados trimestralmente, aumentando a quantidade de estimativas das agências financeiras, servindo estas estimativas para influenciar o valor das acções e em consequência o remuneração dos gestores. A Fortune 500 estimou que os ganhos destes PDG´s foram multiplicados por 100 em 30 anos.

Claro que a meio caminho foi preciso contratar Directores Financeiros para gerir a imagem pública destas empresas e fazer declarações de dividendos, por forma a influenciar as estimativas dos analistas. A certa altura era até mais importante a capacidade de os surpreender do que os ganhos que se anunciavam.

A batota e a mentira, faz assim parte deste sistema intrincado de interesses cujo objectivo final é o lucro... não é demais lembrar que o lançamento de "junk bonds" para financiar as OPA´s hostis esteve na base de crash de 87, e agora os hedges funds estão da base da actual.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Estimulação Intelectual

“Por uma nota de 100, uma rapariga emprestava-nos os seus discos de Bartok, jantava connosco e depois deixava-nos ficar a ver enquanto tinha uma crise de ansiedade. Por 150, podíamos ouvir rádio FM com duas gémeas. Por três notas, era o tratamento completo: uma esbelta morena judia fingia ir buscar-nos ao Museu de Arte Moderna, deixava-nos ler a sua tese de mestrado, envolvia-nos numa discussão estérica sobre o conceito que Freud tinha das mulheres e depois simulava um suicídio à nossa escolha - para alguns tipos, era um noite perfeita. Um belo esquema. Grande cidade Nova Iorque.”
Contos de Woody Allen.

Agora é a blogoesfera que nos estimula? E à borla...

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Na onda

Intelectuais famosos continuam a ver no "povo" uma manada desorientada que precisa ser guiada, para seu próprio bem, dada a "natural estupidez do homem comum". Cabe assim a estes senhores criar-nos as ilusões necessárias, simples mas psicologicamente eficazes para que sejamos apenas espectadores interessados face ao que se passa mas nunca participantes para além do necessário condicionamento a que nos sujeitam na altura dos votos.

A ideia de "manada" é a mesma subjacente à ideia de "rebanho" esta veiculada pela Igreja.

O que é certo é que para nos encaixarmos no sistema, na escola, no trabalho, nas relações pessoais, na sociedade, temos que cumprir regras, ordens, e sujeitarmo-nos a fazer por vezes o que não queremos. Não podemos sair da "linha" por assim dizer, se o fizermos corremos o risco de perder e de sermos marginalizados, portanto de uma forma ou de outra acabamos por entrar na onda.

Também na onda cultural que chega através das mais variadas formas, pensada provavelmente de forma intencional, leva-nos ao narcisismo e favorece uma introspecção do ego em detrimento da nossa vontade juvenil de mudar o mundo, tornando-o num local idílico de paz e prosperidade universal tão bem descrito em qualquer discurso de qualquer candidata a miss-mundo.

Nesta onda de futilidade, apegamo-nos ás coisas superficiais da vida esquecendo progressivamente outros valores humanos mais gerais, da mesma forma que no nosso dia-a-dia não procuramos "o sentido da vida" provavelmente demasiado esmagador, antes nos distraímos e esgotamos o nosso tempo com mil e uma ocupações e relacionamentos.

Se calhar, não é assim tão mau pertencer à manada

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Sustentabilidade

Politica sustentável, relações sustentáveis, arquitectura sustentável, economia sustentável tudo passou a ser sustentável e no entanto...cada vez temos menos...sustentação.

A sustentabilidade tem valor publicitário, vende, mesmo que não se saiba o que é nem como funciona, pressupomos que existe, publicitamo-la, votamos nela, comemo-la e até a vestimos.

É este o paradoxo que encontro, como é que algo que é na essência contra o consumismo, serve exactamente para o promover.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Verdade...

A minha verdade é melhor que a tua.

"dizer que o que é, não é, e o que não é, é, é falso e dizer que o que é, é e o que não é não é, é verdade"
Aristóteles, na sua definição de verdade.

Confuso? só à primeira vista...

Se conheces a verdade toca a campainha.
A campainha soa a falso.


Aceitamos que uma proposição seja verdadeira se for coerente com um conjunto de proposições consideradas verdadeiras, embora uma proposição que seja falsa mas coerente com outro conjunto de preposições verdadeiras possa igualmente ser considerada verdadeira.

Por isso, num plano cognitivo, a coerência em si não basta, mas se possuir para além disso um critério de utilidade ou de vantagem, então será mais um tijolo que não hesitamos adicionar no sistema individual de verdades aceites que construímos com essa argamassa feita de coerência e de utilidade.

Precisamos de construir a parede com que enfrentamos os outros, e sobreviver no dia a dia, essa parede tem de parecer sólida e coerente com aquilo em que previamente acreditamos, não podemos questionar os tijolos que estão na base da nossa parede, tal poderia desmoronar o conjunto, para além de que, colocar tudo permanentemente em causa constituiu um esforço desnecessário e dispendioso dos nossos recursos (tempo e energia).

A interpretação da realidade, filtrada sensorial e culturalmente, ajuda a estabelecer a verdade de cada um, não sendo por isso um conceito universal ou uma propriedade intrínseca, é apenas uma norma interna cujo objectivo é evitar a ilusão metafísica ou o caos conceptual.

Se a busca duma definição da Verdade tem sido frustrante é porventura porque não há nada a procurar.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Catalizador ou inibidor

Ok, sexo é antes de mais um acto corporal, um jogo de silêncios e de percepção sensorial, mas...

...mas de vez em quando apetece verbalizar em jeito de catalizador, de partilha e envolvimento cúmplice...esse catalizador não inclui palavras diccionáveis mas sim outras que as substituem e são muito mais fortes e substantivas.

Não é uma linguagem que ache que funcione na antecipação do acto, aí é o reino da subtileza e do erotismo ou mesmo do humor. Acho até que poderá ser contraproducente, se efectuada fora da “janela de oportunidade”.

Feito este aparte, e como sou educado, (ou preconceituado) não consigo usar calão fora do acto sexual, onde a tesão é máxima, e claro, se a parceira for receptiva, o que é fácil verificar.

Mesmo assim haverá, julgo, uma oratória centrada no individualismo e na auto-satisfação e outra na partilha, na busca da satisfação reciproca, mas atenção, assim como a linguagem corporal pode ser simulada, a teatralização excessiva da linguagem pode ser pior que estar calado.

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Homo Economicus

O nosso PR Cavaco num tom de aviso muito sério, veio dizer que não se deve confundir investimento com retorno, dando como exemplo as autoestradas, mas pensando nos TGVs, novos aeroportos...nada que a Manuela já não tenha dito que vai fazer (ou não fazer) se fôr eleita PM.

A máxima agora é nada se pode fazer se não der lucro! Não parece um paradoxo agora que o neoliberalismo, assente excatamente na busca desse lucro, está em crise?

Já fiz dezenas de análises de investimento para muitos projectos, estimando hardcosts, softcosts, comercialização, calculando TIRs e VALs, com critérios pessimistas ou optimistas. Para além da sensibilidade aos parametros iniciais... arbitrados... onde pequenas variações podem provocar resultados contraditórios, há algo que os modelos matemáticos não conseguem quantificar, ou seja tudo aquilo que se convencionou apelidar de intangível.

Se apenas se decidisse em função dos resultados (tangíveis) nem o Centro Cultural de Belém estaria construído. Hoje passados 20 anos, ninguém poe em causa a sua construção ao contrário do coro de criticas da época. Paradoxalemente o nosso PR era então PM...

Pronto lá vamos ficar paradinhos nos próximos anos...enterrar a cabeça na areia e esperar que a tempestade passe...

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Pensar Imagens

É um cliché... mais vale uma imagem que mil palavras!
Outro: estás a ver o que estou a dizer?
Afinal pensamos em imagens ou em palavras?

Existem hoje diversos argumentos para sustentar que o pensamento existe mesmo sem linguagem e que esta não é mais do que a tradução das representações mentais que a precedem.

A linguagem seria assim apenas um instrumento destinado a comunicar os nossos pensamentos, mas um instrumento imperfeito já que sujeito a demasiadas condicionantes, culturais, gramaticais, interpretativas...

"as palavras faladas ou escritas não têm qualquer interferência nos mecanismos do pensamento...e exprimi-lo é um processo muito laborioso."
Einstien.

terça-feira, 31 de março de 2009

Cinto de Segurança

Alguém acredita que o uso do cinto de segurança contribuiu para o aumento da mortalidade nas estradas? Se desconhecer os factos talvez.
Porque as pessoas ao sentirem maior segurança aumentam a velocidade media de circulação e isso origina mais acidentes...

Pois foi exactamente este argumento que ouvi da boca do eminente João César das Neves em entrevista ao RCP há dias atrás para justificar a posição papal sobre o uso de preservativos, o uso do preservativo contribui assim para o aumento da SIDA uma vez que as pessoas por se sentirem mais seguras têm mais relações sexuais...

Inacreditável...