domingo, 31 de maio de 2009

vinho, muito

há aqueles almoços onde um dos convivas aparece como especialista em vinho e que, na hora de provar, consegue dissertar longamente sobre o sabor, o corpo, a substância, o aroma, a região, as castas, a cor, sei lá e lá temos que gramar com a descoberta recente daquele vinho que é o melhor do ano, que anda no mercado com a melhor relação qualidade preço enfim por ai fora, basta dar um pouco de corda ou dar entender que somos leigos mas interessados no assunto, e lá vem o discurso apropriado...

algumas vezes é um conhecimento bastante genuíno outras, provavelmente a maioria, não. nota-se um certo discurso padronizado, uma certa unanimidade, e uns certos tiques (olhar a transparência, rodar o vinho, cheirar, bochechar. esse "savoir faire" ao fim de algum tempo é detectável, mesmo a quem não ande atento, até parece tirado de um curso intensivo...

o marketing e os prémios, nestas coisas têm um papel fundamental, se entre 1000(?) marcas de vinhos, houver um concurso onde participam 10, um deles sai com a medalha de ouro sem competir com os outros 990...

bastantes anos atrás li uma história verídica que, algo cinicamente me atrevo a contar por alturas da sobremesa, quando as virtudes do néctar voltam a ser assunto de eleição, sem antes deixar de falar claro nos resultados desastrosos da maioria das provas cegas:

um estudo sobre o léxico utilizado pelos provadores profissionais para classificar um vinho revelou que o vocabulário apenas variava em função de um único factor, a cor. se se trata de um tinto será descrito preferencialmente com tendo apontamentos de "maduro", "frutos vermelhos", "cereja", "amora", "frutos silvestres". pelo contrário os brancos serão classificados como contendo frutos claros "frutos brancos", "limão", "lichias"...

a malandrice foi dar a provar vinhos brancos previamente colorados para parecerem tintos e vinhos tintos colorados de branco... e tal como se depreende o vocabulário mudava com a cor de vinho...

quinta-feira, 28 de maio de 2009

a inteligência tem sexo?

as raparigas são mais tagarelas, e os rapazes sabem melhor orientar-se no espaço.
quem não viu infindáveis listas de porque homens e mulheres são como são? normalmente atribui-se uma razão histórica, os homens ocupados pela caça desenvolveram certas aptidões de referenciação espacial e as mulheres com a prol a seu cargo desenvolveram melhor as capacidades da linguagem.

no entanto o QI médio de homens e mulheres é o mesmo: 100 pois claro.

o peso dos estereótipos, da família, da sociedade e da cultura é que criam a diferença entre os cérebros de homens e mulheres, à partida são iguais, é a sua plasticidade que permite a diferenciação, a mesma plasticidade que é responsável pela diferença entre o cérebro de um jogador de rugby e o de um pianista.

nas sociedades baruyas da nova-guiné as mulheres não têm o direito de subir ás arvores e portanto não sabem subir. para os baruyas se elas não o sabem fazer é porque são por natureza incapazes...

terça-feira, 26 de maio de 2009

porquê ateu

o que desprezam as três grandes religiões monoteistas ocidentais:
odio à razão e à inteligência
odio à liberdade
odio aos livros em nome de um só
odio à vida
odio à sexualidade das mulheres
odio ao prazer
odio ao feminino
odio ao corpo
odio aos desejos e às emoções
são tudo coisas que amo...

e vez de tudo isto colocam:
crendice
obdiência e submissão
gosto pela morte e paixão pelo além
castidade e anjos axessuados
virgindade e fidelidade monogamica
esposa e mãe
alma e espirito

ou seja a vida cruxificada e a celebração do que há-de vir.

sábado, 23 de maio de 2009

livros favoritos

o perfil é um dilema. que livros, filmes e musicas é que ponho aqui? o que é um livro favorito? é um livro que se leu várias vezes? é um livro que nos marcou? é um livro que gostamos? é a mistura de a com b, de b com c, de a com c ou de a com b e com c?
não sei, mas acho que faz sentido falar daqueles que marcaram e que de uma forma ou de outra moldaram a minha forma de pensar:

o primeiro foi na infância, o livrinho da catequese, tinha umas ilustrações curiosas para não dizer intrigantes, na primeira aula, não me lembro porquê desatei a fazer perguntas à cataquista. foram de tal ordem que levei duas valentes bofetadas, suficientes para nunca mais lá pôr os pés. mais tarde tive um amigo na escola secundária, tinhamos discussões bem acesas, a mim já me corria nas veias um certo ateísmo que descambou em radicalismo, a ele corria-lhe o teísmo que o colocou no seminário, e fez dele padre. desculpa lá antónio, não foi de propósito, custa-me imaginar-te numa vida inteira de celibato... e tudo graças aquele livrinho mentiroso.

o segundo livro a deixar marcas foi quando fiz 13 anos, foi um presente de anos da luisa, uma alma com quem nunca troquei uma palavra. em contrapartida trocávamos muitos olhares nos corredores da escola e no autocarro da "carreira".
ainda hoje me lembro daqueles olhos negros lindos muito grandes, daqueles cabelos pretos compridos brilhantes e do sorriso daqueles lábios grossos que mostravam os dentes brancos perfeitos, uma paixão juvenil correspondida, acho, mas totalmente platónica.
entregou o livro ao meu irmão com uma dedicatória, uma mistura de timidez e imaturidade impediu-me de lhe agradecer, chamava-se viagem ao mundo a droga, em 75/76 foi uma autêntica pedrada no charco, acho que me foi tremendamente eficaz para superar uma serie de desafios que se seguiriam.
ela provavelmente pensou que eu era um idiota, e pensou bem. depois daquele ano, nunca mais a vi, mas aquele livro, aquele gesto, perseguiu-me sentimentalmente toda a vida.

a seguir veio a fase da biblioteca itenerante da gulbenkien, a carrinha passava lá na aldeia uma vez por mês carregada de livros, claro inscrevi-me e fui leitor desde a primeira hora, tudo de graça, lia 4 ou 5 livros por mês, um autêntico serviço público, os dois velhotes aconselhavam-nos os livros adequados para a idade mas o sentido já estava noutras preciosidades. foi esse sentido que me levou a ler a triologia de henry miller, sexus, nexus e plexus aos catorze anos, uma sorte e uma riqueza literária para descobrir o mundo do sexo, das relações sexuais e da natureza intima dos homens e das mulheres...

os anos seguintes foram literariamente confusos, o vicio dos policiais, comprados e trocados num afarrabista que existia ali no Saldanha numa arcada de um prédio, que depois devorava à noite até de madrugada, alguns romances que me emprestavam, genero que já pouco apreciava e que a leitura obrigatória dos Maias só veio agravar, e kilos e kilos de lixo tipo os mistérios da ilha da pascoa, extraterestes, astrologia, isoterismo enfim todos os barretes que passados 30 anos continuam nos escarrapates das livrarias sempre renovados e reescritos.

a partir dos 19, 20 anos mergulhado em livros tecnicos emergiu finalmente a curiosidade pelas coisas "sérias" história, filosfia, e divulgação cientifica. destes, um deles, o gene egoista de richard dawkins foi fundamental para moldar daí para a frente a minha forma de pensar, finalmente todas as peças do puzzle, todas as noções dispersas fizeram sentido, todos os comportamentos passaram a ter uma lógica, a história dos homens embora sem sentido passou a ter sentido... se é que isto faz sentido.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Arte












uma foto de um crucifixo mergulhado em urina;
unhas envernizadas com sangue de um morto;
lavar os pés dos visitantes e fazer-se baptizar com essa água;
limpar os sapatos tendo por tapete a bandeira do país;
defecar em público;
banhar-se em ketchup com uma boneca enfiada no rabo;
foto da cara coberta de excrementos;
animais cortados transversalmente conservados em formol;
pornografia, tortura, morte, sangue, liquidos corporais.

o que é que isto tudo tem em comum? é arte.
pelo menos é isso que nos dizem os seus autores.

a busca da indignação e da provocação é o sintoma pretendido para medir a originalidade da obra. a hostilidade do público faz parte integrante do jogo, um jogo no limite entre o legal e o clandestino, quando o jogo que se joga é a procura dos holofotes.

em 94 um artista marselhês bombardeava turistas com ovos e farinha enquanto os filmava com o objectivo de fazer uma "escultura social". depois da apresentação de queixas à policia por parte de algumas vitimas, foi condenado, um ano depois, a uma multa de 2000 euros no mesmo dia em que era inaugurada a exposição.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Arlequim

Fiz um gesto obsceno, vulgar, um pouco irreflectido... depois levantei a cabeça e reparei que alguém estava ali e viu. Apercebi-me de repente da vulgaridade do gesto e fiquei envergonhado.

Lembrei-me daquela máxima de J.P.Sartre "o inferno, são os outros". Se o olhar dos outros é na maioria dos casos inofensivo, pode também tornar-se angustiante transformando-nos em objectos sujeitos a um julgamento constante.

Se esse olhar nos dá por vezes suores frios, é no entanto essencial para a construção da nossa própria identidade e para que a exterioridade do mundo seja verificada, não seja uma ilusão, a ilusão e a alienação em que Robinson Crusoé naufrago na sua ilha deserta, mergulhou.

É também nessa falta do olhar dos outros que mendigos se deixam progressivamente desaparecer no fundo de um túnel do metro ou numa esquina da vida, e que doentes e idosos esquecidos morrem no canto da solidão e da indiferença.

É a busca desse olhar que nos faz interagir socialmente buscando a aprovação dos outros, a forma de vestir e de estar, de dizer, de pensar, buscando sermos reconhecidos, nem que seja também em forma de arlequim feito estátua.

sábado, 16 de maio de 2009

Somos águias

Encontrei este texto que acho que é sobejamente conhecido:

A águia pode viver cerca de 80 anos.
Ela depende, na maioria dos casos, somente dela para sobreviver todo esse tempo. Entre os 40 e 50 anos de idade a águia precisa passar por uma série de transformações, que a levarão ao sofrimento extremo para que possa sobreviver. Ela sobe até o alto das montanhas, onde se sente mais segura, e começa todo o processo para a renovação. Primeiro a águia começa a arrancar toda a sua pelagem, pena por pena, com seu próprio bico, pois as penas já estão velhas, no que resulta a perca de aerodinâmica. Passado um mês toda a sua pelagem já está nova para voar em perfeição. Em seguida começa a quebrar suas unhas, velhas demais para segurar suas presas; elas tiram até a raiz para nascerem unhas mais fortes, parecidas com as de sua primeira caçada. Após um mês de recuperação e crescimento das novas unhas, a águia ainda precisa passar pela parte mais difícil do processo que é a quebra de seu bico, muito velho e envergado que dificultam para pegar sua presa. Ela bate o seu bico por diversas vezes com todas suas forças restantes, já que ela está muito debilitada por todas as dificuldades passadas no processo de mudança, até que ele se quebre e caia. Somente após um mês é que o novo bico estará forte para voltar a ativa, e a águia pronta para enfrentar novamente todas as dificuldades deste mundo.
Nós seres humanos somos iguais às águias.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Analfabetos

E se de repente não soubéssemos ler?
Como fazer as compras no supermercado, tomar o metro, preencher um impresso, ver um filme legendado, tantas coisas que fazemos sem pensar que passariam a ser autênticas tarefas titânicas com dispêndio considerável de energia e de tempo, se não quando impossíveis de realizar.

O analfabetismo, na nossa sociedade é claramente uma falta de liberdade não só de ler mas também representa a supressão de todas as outras liberdades que dependem da leitura, no entanto, do ponto de vista da liberdade individual, de quem não pede e não tem desejo de deixar de ser analfabeto, a imposição de alfabetização pode ser vista, conforme defende uma certa visão anarquista, como uma violação dessa mesma liberdade.

Generalizando e saindo da orbita do exemplo, contrariamente ás liberdades formais, os direitos sociais não são verdadeiros direitos, estão mesmo em antítese uma vez que exigem a imposição de obrigações positivas que constituem uma violação dos direitos individuais.

Assim podem, os políticos, junto das populações e do eleitorado, que nada pediu, justificar o seu conservadorismo apoiado no avesso natural à mudança, ou omitir as suas politicas publicas, ou melhor a falta delas, e esgrimir furiosamente contra a imposição de mais obrigações sociais.

Afinal da contas não somos indivíduos morais animados de preocupações sobre o bem comum, ou sobre um interesse global. Antes pelo contrário, como me disse um colega há dias "eu até concordo com a maior parte das reformas, mas não voto naquele "malandro" que me aumentou o IRS de 40 para 42%", revelador.

A Beleza

Pâris filho do rei de Troia, foi encarregado por Zeus de escolher de entre as deusas do Olimpo aquela que deveria receber uma maça de ouro com a inscrição "à mais bela". A escolhida foi Aphrodite a deusa do amor, que em reconhecimento ao seu novo protegido prometeu-lhe o amor da mais bela das mortais, Helena, que estava casada com o rei de Esparta, Menelas.
Foi portanto pela beleza de uma deusa e de uma mortal que se iniciou a guerra de Troia.

A beleza, quando é sublime, assalta-nos, submerge-nos e quebra as nossas defesas. É fatal, turbulenta, inspirou todos os clássicos, os contos da fada, inúmeros romances, os filmes e cria as deusas do cinema.

Desde a escola primária os alunos mais atraentes são previligiados pelos professores e pelos seus colegas. Profissionalmente a diferença de salários e de oportunidades entre os belos e os feios tem uma dimensão insuspeita.
A beleza é uma espécie de diploma, ou pelo menos de passaporte ou de capital humano que o mercado de trabalho reconhece facilmente.

A associação insconsciente entre beleza e valor, entre pureza dos traços e da alma, altamente evidenciada pela literatura é apenas um jogo desta forma de descriminação positiva, quase completamente inconsciente.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Teroria da Escada

Encontrei isto:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_escada

"A teoria da escada, ou T.E., é uma explicação, baseada na sabedoria popular, de como homens e mulheres avaliam membros do sexo oposto baseando-se em primeiras impressões. No modelo de T.E., essa decisão é tipicamente feita de forma rápida e decisiva, determinando o potencial da outra pessoa como um futuro companheiro"


Se bem que é uma teoria redutora, não deixa de conseguir tocar alguns sinos para os quais parecia já ter tido uma intuição qualquer, como por exemplo detestar ser catalogado como "um amigo" por perceber que nunca mais teria qualquer hipótese de passar para a outra escada...

Se bem que hoje, com o advento das amizades coloridas, aparentemente os homens troquem constantemente de escada... não há mulher que se preze que não traga na sua malinha um conjunto de "lápis de colorir" com sabor a morango... me parece mesmo assim que esta teoria continua em parte válida, não há trocas de escada há é o recurso a níveis mais baixos da escada.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Bem ou Mal

Se puseres uma nova comida na boca não tens de decidir se ela é ou não saborosa, sabes simplesmente. Não tens de decidir se uma paisagem é bonita, sabes simplesmente. Quando vês uma mulher pela primeira vez não tens que decidir se ela é "comestível", sabes simplesmente (este exemplo é infeliz, machista, eu sei).

Como é que seríamos, sem os 10 mandamentos, sem as religiões, sem o pretenso monopólio que elas se arrogam sobre a moral, seríamos bárbaros e cruéis? já estaríamos mortos, extintos? Ou pelo contrário estaríamos bem, recomendáveis e de saúde?

Eu inclino-me mais para esta segunda hipótese, na medida em que a moral não resulta de uma doutrina pensada e imposta racionalmente a uma urbe, mas simplesmente está lá, faz parte da nossa intuição e das nossas emoções, o choque é a nossa primeira reacção emocional quando deparamos com algo que contaria o nosso sentido de sobrevivência tanto individual como de grupo, não precisamos de decidir o que é moral, simplesmente sabemos o que é.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Factor x ou y

“O pedido de igualdade de reconhecimento implica que, quando despojamos alguém de todas as suas características contingentes e acidentais, resta uma qualidade humana essencial merecedora de um certo respeito – digamos o factor X. A pele, a cor, a aparência, a classe social e a saúde, o género, o pano de fundo cultural e até os talentos naturais de cada um, tudo isso são acidentes de nascença relegados ao nível de características não essenciais. (...) Mas, no domínio público, somos chamados a respeitar as pessoas de modo igual, com base no factor X que elas possuem”
Francis Fukuyama

Dei com esta reflexão, que me levou a outra, se calhar por sermos idealmente todos iguais no plano dos direitos, procuramos um contraponto, um factor de desigualdade Y que nos eleve à categoria de únicos enquanto indivíduos, ou nos saliente uma diferença ou originalidade, um modo de vida ou uma vantagem qualquer.

Embora fosse uma criança no período pós Abril de 74, recordo que o espírito da revolução pairou durante algum tempo e nessa altura (efémera é certo) X era muito maior que Y.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Era do Individuo

Somos o quê nesta «era do individuo»? Metrossexuais, hipermodernos, excessivos, obcecados...o que é que hoje somos, e o que é que deixamos de ser?

Cuidamos mais do aspecto exterior do corpo, o corpo é uma preocupação central, basta visitar as nossas cidades para detectar a sua omnipresença, boutiques, lojas, produtos cosméticos, centros de estética, tatuagens, ginásios, novos medicamentos e novas técnicas cirúrgicas para o melhorar e alterar. Em poucas décadas passamos do corpo dominado pela natureza para o corpo auto-modelado não só na sua aparência exterior mas também no seu interior, desde que eliminamos as dores e o sofrimento (já nem sequer nos lembramos que até aos anos 40 e 50 os médicos eram impotentes para o seu alivio).

Por todo e lado nos dizem que "tempo é dinheiro" por isso queremos dominar o tempo, tudo passou a ser urgente, tudo é sempre tão urgente, que a urgência passou a ser a norma, a tecnologia permite-nos fazer mais coisas... mas temos que fazer muito mais coisas no mesmo tempo, e o tempo social rarifica-se. O telemóvel, os mails e a internet dão-nos o sentimento de poder vencer o tempo e de o poder dominar, uma vez que estamos ali «contactáveis» mas é pura ilusão. O tempo cadenciado marcado pelo ritmo das estações e das colheitas, do Inverno e do Verão, foi comprimido e tornou-se um tempo instantâneo.

Passamos assim a viver também de relações flexíveis e efémeras, a existência subjectiva torna-se dependente do exterior, está subordinada à relação com os outros, a fluidez e a flexibilidade dos sistemas económicos actuais impõem o imediatismo que passa para a instantaneidade das relações, deixamos de ter a capacidade do compromisso a longo prazo, o nosso carácter foi corroído. Mesmo na educação dos jovens lhes dizemos que o que conta é a capacidade de adaptação e de mudança, que já não há empregos para a vida. As relações começam tão depressa como acabam e somos actores que desempenhamos papeis múltiplos simultâneos.

Queremos mais, cada vez mais, jogamos no limite, na hiperactividade, abandonamos o equilíbrio característico do homem honesto e de família do passado, pulverizado pela abolição dos corpetes nos anos 30 e pela queima dos soutiens nos anos 60, vivemos a 200 à hora numa explosão sensorial, do gozo imediato e dos excessos de álcool, drogas e sexo.

Nesta aceleração de um tempo pulverizado, o aqui e agora sobrepõe-se ao eterno desfazendo o conceito de deus, resta espaço para um deus instantâneo alojado no interior da consciência e que com ela se confunde, somos o nosso próprio deus.

Alexis de Tocqueville, no seculo XIX foi premonitório "... no momento em que eles desesperam para viver uma eternidade, estão dispostos a agir como se não houvesse amanhã..."