sexta-feira, 28 de agosto de 2009

a arte

é a qualidade estética que nos faz reconhecer uma obra de arte?
sendo a estética relativa, subjectiva e a maior parte das vezes ineligível, sob este aspecto é sem dúvida indefinível, não há descrição consensual na história ou na filosofia do que é uma obra de arte.

apenas os juristas têm uma definição rigorosa elaborada por coleccionadores, conservadores e representantes do mercado da arte em total conhecimento de causa. O que se entende juridicamente por uma obra de arte não é mais que limitar-se a indicar objectos negociáveis e não abarca nem a literatura, nem a música nem as artes do espectáculo, nem tão pouco recorre a nenhum julgamento estético. toda a noção de qualidade está ausente.

uma obra de arte define-se assim por apenas dois critérios: ela é única e produz um numero limitado, ou ela deve ser obrigatoriamente fabricada ou controlada pelo artista.

portanto qualquer objecto não reproductível pode ser um arquétipo de objecto de arte, qualquer quadro medíocre é uma obra de arte qualquer que seja o julgamento pessoal que tenhamos sobre ele.

a sua qualificação como obra de arte não depende nem do estilo nem da época, nem da notoriedade do autor apenas tem que ser "original".

ora, ser "original" é uma noção complexa que engloba noções de novidade, autenticidade e unicidade. Sendo que a novidade e a autenticidade podem ser produzidas industrialmente resta a unicidade ou dito de outra forma as "fabricas de raridades"....

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

ruas da cidade



ruas da cidade são como veias
vistas das ameias sem padrão
por mais que o olhar se perca
volta sempre ao seu coração.

muitas delas são sobranceiras ao rio
num equilíbrio permanente de desafio
ao efeito da gravidade mascarada
e destes tempos da erosão mitigada.

outras exibem geometria nos jardins
sombras e esplanadas de luxúrias afins
pedaços remanescentes doutra babilónia
fragmentos revisitados da mesma história.

há ainda vielas que são becos da memória
escadarias penosas e travessas de glória
atalhos da vida, confluência e divergência
irrevogáveis cruzamentos de simples anuência.

das que conheço em todas reconheço
os mesmos segredos de outras formas
das que desconheço curioso permaneço
embora sem a inquietude de outrora.

esta aqui tem um sentido, na outra não posso ficar
quantas dessas não duvido, preparadas para amar.
por cada uma percorrida, com outras novas me deparo
percorro-as mais depressa, na ânsia do teu amparo.

ruas da cidade de ti vazias
transformam dias em anos de solidão
porque enquanto te afastas retornas
em cada esquina ao meu coração.

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sexta-feira, 14 de agosto de 2009

a vulgaridade

" a vulgaridade é a água forte da mediocridade. na ostentação do medíocre reside a psicologia do vulgar; basta insistir nos traços suaves da aguarela para se ter água-forte.

... é uma acentuação dos estigmas comuns a todo o ser gregário; apenas floresce quando as sociedades se desequilibram em desfavor do idealismo. é a renuncia ao pudor daquele que carece de nobreza. nenhum trabalho original a comove. desdenha o verbo altivo e os romantismos comprometedores. sua zombaria é pouco consistente, sua palavra muda, seu observar opaco...

... repudia as coisas líricas porque estas obrigam a pensamentos muito altos e a gestos demasiado dignos. é incapaz de estoicismos: sua frugalidade é um cálculo para gozar mais tempo dos prazeres, reservando maior perspectiva de gozo para a velhice impotente...

... admira o utilitarismo egoísta, imediato, pequeno, contado. posto a eleger, nunca segue o caminho que lhes indique sua própria inclinação, senão o que lhes marcaria o cálculo dos seus iguais. ignora que toda a grandeza de espírito exige a cumplicidade do coração...um pensamento não fecundado pela paixão é como um sol de inverno, alumia, mas sob seus raios pode-se morrer gelado...

...a vulgaridade transforma o amor da vida em pulsanimidade; a prudência em covardia; o orgulho em vaidade; o respeito em servilismo. leva à ostentação, à avareza, à falsidade, à avidez e à simulação..."

em "o homem medíocre" de José Ingenieros

terça-feira, 11 de agosto de 2009

os teus lábios

dos teus lábios guardo memórias
fragmentos que contam histórias
promessas vividas intensamente
transformadas em algo recorrente.

em teus lábios tom marron
se respiras ouço o som
se suspiras sou a causa
adivinho o beijo numa pausa.

os teus lábios doces de morango
perto dos meus num passo de tango
ensaiam danças coreografadas
abrem-se como num conto de fadas.

nos teus lábios macios de veludo
desespero e espero tudo
quando neles entrego os meus
quando nos meus encontro os teus.



ps: efeitos da silly season, em breve volto à prosa...