quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Auto-retratos e biografias

Este fim de semana fui a uma livraria.
Normalmente vou directo às secções que mais me interessam e não me detenho nas outras, mas desta vez parei e fiquei surpreendido com a quantidade de livros que são biografias ou autobiografias, até na secção de história abundam as biografias históricas.

Acho que os museus também estão cheios de retratos de reis e afins e de auto-retratos cujos autores não devem ter resistido ao apelo narcísico. O museu da cera, o passeio da fama, o self made man e claro os blogs são outros tantos sinais da nossa cultura centrado no individuo e nas suas façanhas, muito pouco importando a comunidade, a sociedade ou a natureza.

Em contraponto na arte oriental, são quase sempre as paisagens os motivos principais, as pessoas quando retratadas aparecem exercendo alguma actividade agrícola ou veiculam outra qualquer mensagem social.

Estas diferenças só podem ter raízes na forma como ao longo de milhares de anos cada uma destas culturas percepcionou o lugar do homem no mundo, na nossa, de raiz judaico cristã, ao homem, feito à imagem do Criador, foi-lhe atribuída a natureza para o servir donde a nossa pouca preocupação com o ambiente e com as questões ecológicas ao longo de dois milénios, apenas recentemente nos demos conta da finitude dos recursos e da fragilidade dos ecossistemas que nos rodeiam.

Em contraponto, por exemplo na cultura chinesa, um pouco difícil de assimilar dada a nossa visão cartesiana do corpo separado da alma, o universo, o ch´i, é um processo orgânico que flúi continuamente. O todo, a continuidade e o dinamismo dos processos, geram espontaneamente a vida. O ser-se, é em si mesmo um processo continuo que não começa na vida nem se esgota na morte, uma vez que estamos integrados numa dinâmica que se renova em permanência. O individuo não é central, o corpo e a alma não são distintos, nem tão pouco o feminino e o masculino, o céu e a terra, o positivo e o negativo, antes a sua soma é o todo tal como simboliza a complementaridade do Yin-Yang. Nessa acepção o homem é também a natureza, ou pelo menos tem sido até à chegada da Coca-Cola àquelas paragens.

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