quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Cem vezes quatro não são quatrocentos

O delta do rio das Pérolas tem mais de 60 km de largura. Nos seus vértices está Guanzou, no interior, Macau na margem Sul e Hong-Kong na margem Norte.

O território de Macau foi tacitamente cedido aos Portugueses durante mais de 400 anos até à sua entrega à China em 1999. Com cerca de 500 mil habitantes, o orçamento do território é na integra suportado pelas receitas do jogo e das actividades turísticas associadas incluindo a prostituição.

Por sua vez, os territórios de Hong-Kong foram negociados como contrapartida dos Chineses aos Ingleses na sequência derrota na guerra do ópio, por um período de 150 anos que terminou em 1997. Passou para a China com cerca de 6 milhões de habitantes, e outros 6 milhões na sua periferia do outro lado da fronteira, ocupando o lugar de principal praça financeira do sudeste asiático.

Certo dia, falando com um chinês de Macau sobre as diferentes dinâmicas destas duas cidades, retorquiu que ao contrário dos ingleses que tiveram uma prespectiva de permanência longa, portanto com tempo, disposição e engenho para construir uma cidade competitiva, com todas as valências, os portugueses começando a instalar-se em semi-clandestinidade mantiveram sempre uma visão de curto prazo, quer por via dos negócios iniciais que se limitavam a fretar navios com sedas e especiarias, quer mais tarde com a nomeação para os principais cargos do território de militares portugueses por periodos de 4 anos correspondentes às comissões de serviço.

Rematou dizendo que os ingleses estiveram por uma vez durante 150 anos em Hong-Kong ao passo que os portugueses estiveram 100 vezes durante 4 anos em Macau.

Bem sei que é uma redução simplista, não tem em conta uma quantidade enorme de outros factores, bem como a dinâmica própria e o auge de cada um desses impérios, mas não deixa de ser uma imagem que, se por um lado retrata a nossa caracteristica tipica do desenrascanço, por outro mostra a nossa pouca capacidade de vermos para além do horizonte imediato.

Auto-retratos e biografias

Este fim de semana fui a uma livraria.
Normalmente vou directo às secções que mais me interessam e não me detenho nas outras, mas desta vez parei e fiquei surpreendido com a quantidade de livros que são biografias ou autobiografias, até na secção de história abundam as biografias históricas.

Acho que os museus também estão cheios de retratos de reis e afins e de auto-retratos cujos autores não devem ter resistido ao apelo narcísico. O museu da cera, o passeio da fama, o self made man e claro os blogs são outros tantos sinais da nossa cultura centrado no individuo e nas suas façanhas, muito pouco importando a comunidade, a sociedade ou a natureza.

Em contraponto na arte oriental, são quase sempre as paisagens os motivos principais, as pessoas quando retratadas aparecem exercendo alguma actividade agrícola ou veiculam outra qualquer mensagem social.

Estas diferenças só podem ter raízes na forma como ao longo de milhares de anos cada uma destas culturas percepcionou o lugar do homem no mundo, na nossa, de raiz judaico cristã, ao homem, feito à imagem do Criador, foi-lhe atribuída a natureza para o servir donde a nossa pouca preocupação com o ambiente e com as questões ecológicas ao longo de dois milénios, apenas recentemente nos demos conta da finitude dos recursos e da fragilidade dos ecossistemas que nos rodeiam.

Em contraponto, por exemplo na cultura chinesa, um pouco difícil de assimilar dada a nossa visão cartesiana do corpo separado da alma, o universo, o ch´i, é um processo orgânico que flúi continuamente. O todo, a continuidade e o dinamismo dos processos, geram espontaneamente a vida. O ser-se, é em si mesmo um processo continuo que não começa na vida nem se esgota na morte, uma vez que estamos integrados numa dinâmica que se renova em permanência. O individuo não é central, o corpo e a alma não são distintos, nem tão pouco o feminino e o masculino, o céu e a terra, o positivo e o negativo, antes a sua soma é o todo tal como simboliza a complementaridade do Yin-Yang. Nessa acepção o homem é também a natureza, ou pelo menos tem sido até à chegada da Coca-Cola àquelas paragens.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A seta caprichosa

Olhando para trás nas nossas vidas quantas vezes nos parece que determinada decisão condicionou ou alterou completamente o rumo das coisas, ou que a posição relativa que ocupamos na sociedade é um somatório de pequenas circunstancias onde bastava que uma delas tivesse sido diferente para alterar completamente a nossa historia pessoal e eventualmente fazer de nós pessoas diferentes (para o bem ou para o mal), com uma acumulação diferente de saber, de estar e de agir.

Tenho consciência que, quando nascemos, o universo das possibilidades iniciais não é igual para todos, varia com a herança genética, cultural e material, o local de nascimento, a época e outros factores que tais que não dependem da decisão ou escolha do próprio.

Algumas pessoas dirão que se trata do destino. Esta forma místico/fatalista de ver a vida não serve. A vida, desde o nascimento até à morte, é um percurso entre o momento de todas as promessas e das múltiplas esperanças e a consumação do ultimo acto único, ou seja, cada um, dentro do seu universo de possibilidades, vai restringindo inexoravelmente e paulatinamente o leque das suas opções disponíveis até que lhe reste apenas uma, a morte.

É reconfortante pensar que estou ainda a meio do percurso e que tendo ainda muitas opções para escolher aquilo que quero para o resto da minha vida.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

O capital da democracia

Toda a gente sabe, ou terá já sentido na vida, de alguma forma, que a democracia não é uma sistema politico perfeito tendo já vivido ou percepcionado alguma situação do dia a dia de profunda injustiça, insensibilidade ou de puro egoísmo. É comum aceitar-se a sua imperfeição dizem, por não haver melhores sistemas ou modelos alternativos na actualidade, para o que muito terá contribuído o descrédito de outros apelidados de totalitários de direita ou de esquerda.

No entanto vejamos que, quem detem o poder politico nestas democracias são elites que alternam e pululam normalmente na crista dos partidos. Para se afirmarem como elites basta cultivarem ou melhorarem algum eventual dom para o discurso e argumentação, terem ou passarem uma boa imagem, embrulhados de preferência num fato escuro com gravata e exporem vigorosamente ideias igualitárias, de alto valor humano e decididamente altruístas (e não serem ateus, mas isso é outra história) e mais importante que tudo, terem sido treinados e ensinados numa cultura ocidental pós II Guerra Mundial onde os managers são nitidamente o FMI e o Banco Mundial à sombra dos acordos de Bretonwoods.

Ora acontece que, estas pessoas aparentemente altruístas, estão coarctadas pelo poder económico que por sua vez é altamente egoísta e egocêntrico na sua busca cega do lucro, daí ao discurso hipócrita e mentiroso é apenas um pequeno passo, agindo para servir economias de mercado cuja preocupação pela igualdade e pela justiça social é no mínimo duvidosa.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Signos

Há dias jantei com amigos que traziam amigas.

Às tantas lá veio a sacramental pergunta “e tu, de que signo és?”
Estas conversas são regra geral iniciadas pelo sexo oposto, o mais entendido nestas coisas, e normalmente evoluem para considerações sobre a personalidade e o temperamento. Quando se atinge uma contradição qualquer é hora de aparecerem os famosos ascendentes “... isso é porque o teu ascendente deve ser este ou aquele” dizem-me.

Nessas alturas gosto de perguntar “... e tu sabes qual é o teu descendente?” depois da surpresa, o silêncio, e depois o olhar fulminante, e pronto, lá ganhei uma inimiga.

Convenhamos, dividir a personalidade humana em 12 tipos é quase tão redutor como apenas ver 7 cores no arco-íris.

Mais um

Mais um blog e com um titulo destes não há-de ser grande coisa...quem é quer saber de coisas vulgares e comuns numa época em que tudo tem de ser especial, diferente e original?

O que me levou a abri-lo foi a sensação de desigualdade para com os donos dos blogs por onde tenho deixado um ou outro comentário. Se vou a casa de alguém jantar ou beber um copo, numa situação normal o mínimo que devo fazer é retribuir o convite, acho.

Sobre mim pouco tenho a dizer, embora pense muito, mas tudo espremido, ao fim quarenta anos acho que sou apenas um tipo normal, que se foi safando como pôde, sem nenhum rasgo de génio, sempre ali na mediania, mas que se adaptou sempre a novos desafios e a novas situações.

Portanto aqui não haverá grandes tiradas, verdades absolutas, evidências pardas, ou lapalissadas, assim espero. Apenas que o senso que os anos me deram, prevaleça tratando os assuntos que me der na real gana.

Talvez tome o gosto de escrever aqui, ou talvez não.