segunda-feira, 20 de abril de 2009

Na onda

Intelectuais famosos continuam a ver no "povo" uma manada desorientada que precisa ser guiada, para seu próprio bem, dada a "natural estupidez do homem comum". Cabe assim a estes senhores criar-nos as ilusões necessárias, simples mas psicologicamente eficazes para que sejamos apenas espectadores interessados face ao que se passa mas nunca participantes para além do necessário condicionamento a que nos sujeitam na altura dos votos.

A ideia de "manada" é a mesma subjacente à ideia de "rebanho" esta veiculada pela Igreja.

O que é certo é que para nos encaixarmos no sistema, na escola, no trabalho, nas relações pessoais, na sociedade, temos que cumprir regras, ordens, e sujeitarmo-nos a fazer por vezes o que não queremos. Não podemos sair da "linha" por assim dizer, se o fizermos corremos o risco de perder e de sermos marginalizados, portanto de uma forma ou de outra acabamos por entrar na onda.

Também na onda cultural que chega através das mais variadas formas, pensada provavelmente de forma intencional, leva-nos ao narcisismo e favorece uma introspecção do ego em detrimento da nossa vontade juvenil de mudar o mundo, tornando-o num local idílico de paz e prosperidade universal tão bem descrito em qualquer discurso de qualquer candidata a miss-mundo.

Nesta onda de futilidade, apegamo-nos ás coisas superficiais da vida esquecendo progressivamente outros valores humanos mais gerais, da mesma forma que no nosso dia-a-dia não procuramos "o sentido da vida" provavelmente demasiado esmagador, antes nos distraímos e esgotamos o nosso tempo com mil e uma ocupações e relacionamentos.

Se calhar, não é assim tão mau pertencer à manada

16 comentários:

Unknown disse...

Todos temos papeis a desempenhar na sociedade em que estamos inseridos, mas conduzir os nossos relacionamentos pessoais desta forma não me parece muito saudável, nem creio que traga alguma felicidade que nos faça acreditar no "sentido da vida". Quebrar as regras e as normas de vez em quando só nos faz bem ao ego, e porque não?

FacAfiada disse...

Regras enervam mas é um ter de ser, um viver em sociedade, um aceitar o espaço dos outros ... mas carneiradas não, isso nunca!

Iris Restolho disse...

Sinceramente, não vejo nada de bom em pertencer à manada. Nada mesmo.

Eu gosto de rema contra a maré, de ser do contra e a penas respeitar a liberdade dos doutros, desde que esses respeitem a minha.

Fazer algo em prol da sociedade do mundo ou do universo, não tem nada a ver com o fazer parte da manda ou do rebanho, esses nada fazem, apenas esperam que o pastor os guie e seguem cegamente as suas directrizes, que na maioria das vezes, pouco são acertadas.

Prefiro sofrer e estar constantemente com dúvidas sobre quem sou, o que gosto o que posso fazer, do que ser um carneiro do rebanho. (apesar de o ser de signo, talvez por isso mesmo)

Pronto, tinha que contestar. ;)

Vulgar disse...

i just,
não estava particularmente a pensar nos relacionamentos pessoais, embora se possa eventualmente aplicar também, afinal temos um padrão cultural monogâmico a qual não podemos escapar...

Vulgar disse...

FacaAfiada,
quando se vê um concerto com cem mil pessoas em semi-transe, isso não será também um carneirada?
Bjs

Vulgar disse...

Iris,
não vejo que tenhas contestado...
a propria busca da originalidade e da satisfação pessoal pode ser uma das ilusões criadas com este efeito tremendamente eficaz.
bjs

Iris Restolho disse...

Não é ao diferente padronizado, que eu me estava a referir.

Mas percebo o teu ponto de vista. No entanto as grandes mudanças vieram sempre, daqueles que sempre nadaram contra a corrente.

Procurar o sentido da vida, é encontrarmos-nos a nós mesmos e isso, a manada não faz.

alfabeta disse...

Eu não gosto de pertencer a manadas.

Vulgar disse...

Iris,
É isso, concordo contigo.
A unica ressalva, é se esse ponto de encontro não é de certa forma premeditado.
Bjs

Vulgar disse...

alfabeta,
acho que ninguem gosta... conscientemente.
Bjs

Iris Restolho disse...

Premeditado?!

Como podemos prever encontrarmos-nos? Acho que é daquelas coisas que acontecem depois de muita tentativa, erro e tentativa, depois de explorarmos todos os limites de nós mesmos e creio que a maioria de nós acaba por morrer sem o ter feito, ou talvez apenas o façam naquele momento de plena clarividência, que eu quero acreditar que os minutos antes da morte trazem.

pecado original disse...

Nem com eles nem sem eles.

Vulgar disse...

Iris,
No sentido em que a originalidade é uma ilusão.
Bjs

Vulgar disse...

Pecado,
Eu com elas gosto...
Bjs

Miguel Figueiredo disse...

Sim senhora, é interessante a vossa converça sobre as manadas. É... são tantas as manadas que já não se cosegue viver sem elas. E depois consciente ou não, mais ou menos originias, em pequenas ou grandes manadas, vivemos... mal. Ou bem, mas sempre em manadas.
Mas eu como outros tantos sou o especial, da manada.
A propósito no lugar da manada tenho utilizado o termo e a/s personagens do/s "matrecos"
Ver fotos do meu trabalho. Sou escultor

Vulgar disse...

Miguel,
Fui ver a escultura, sem dúvida, as imagens têm muitos mais força que qualquer arrazoado de palavras.
Acho que captaste o que também quis transmitir... a ilusão de sermos especiais., mas que é necessária.. até porque há correntes filosóficas que nos fazem até duvidar da existência dos outros.
Cumprimentos