sábado, 6 de junho de 2009

boa morte

uma japonesa idosa decide um dia morrer nas encostas geladas do monte marayama.
na tradição desta região pobre, as pessoas que atingem 70 anos suicidam-se desta forma. esta senhora não tem ainda essa idade mas, mesmo assim, decide morrer. não age por desespero mas para deixar lugar à sua filha e à sua segunda neta que está para nascer.
será esta uma morte desejada?

esta história de eutanásia, de boa morte, mostra que não é apenas uma questão moral como muitos a querem reduzir discutindo detalhes técnicos e jurídicos e condenando quem a acciona, é também uma questão cultural e social.

quando mais de 70% das mortes se dão em hospitais, numa altura em que algumas funções vitais estão irremediavelmente diminuídas e a sobrevivência dependente de assistência medica pesada, gostaria de saber que chegado a esse estado poderia preservar a minha dignidade e partir tranquilamente.

11 comentários:

alfabeta disse...

Todos deveriamos escolher como morrer e quando.

:)

Anónimo disse...

Se podemos optar por colocar mais gente no mundo, é mais que justo que com a mesma facilidade tenhamos o direito de nos retirar de "circulação" seja por que motivo for.

Esse sim é o respeito máximo pela vida Humana!

bjs

Vulgar disse...

alfabeta,
apenas receio, quando surgir o debate na nossa sociedade (e não pode ser eternamente adiado) que as vozes do costume apareçam embandeirando com a defesa da vida a todo o custo.
bjs

korosiva,
completamente de acordo.
espero que o debate seja sério e responsável quando surgir.
bjs

Anónimo disse...

Assunto polêmico, este ...
Principalmente quando envolve ligações afetivas imensas aliada à técnologia médica, avançando a cada dia.
Mas por outro lado, seria válido esticar o sofrimento a espera do futuro incerto ???
Muito delicado e pessoal, prefiro me abster e só observar ... rsrsr

Bjssssssss

tronxa disse...

é a democracia em k vivemos...

uma democracia k nem para decidirmos sobre o fim da nossa vida temos liberdade!

nao entendo como é mais humano para estes senhores terem pessoas a sofrerem, agarradas a uma maquina, dias e dias, por vezes meses e anos, e acharem uma crueldade desligarem as ditas makinas...

o k faz esta pessoa enkt viva??
sofre, mais nada...

ás x é o proprio egoismo (e estupidez) de familiares k faz com que nao se desligue a makina.

Acho que qualquer de nós devia ter o direito de não querer sofrer na morte e, como tal, poder decidir em que altura prefere morrer...

no dia em que nos derem esse direito, sim, vivemos um pouco mais em democracia.

bom domingo

Vulgar disse...

Hellena,
compreendo a tua expectativa, sinto no entanto que tens sensibilidade mais que suficiente para um juízo correcto e responsável, quando for necessário.
um beijo

tronxa,
eu era ainda jovem quando o meu pai entrou num hospital e lá permaneceu durante oito anos até ao dia da sua morte. o sofrimento dos familiares próximos foi real, penoso e demorado, apenas não sei quantificar o dele, imagino-o num limbo, numa zona de inconsciência física e psicológica entrecortada por pequenos momentos de uma espécie de regresso ao passado.

sei apenas que não quero estar no lugar dele, e que gostaria de poder decidir, já, as condições da minha morte assistida, se for necessária claro, agora e aqui no meu estado actual de plena consciência e não após um AVC ou outro qualquer acidente que me retire a lucidez e a presença de espírito.

por isso acho fundamental que haja uma lei que autorize a pratica da eutanásia, a que as pessoas possam aderir voluntariamente e cedo nas suas vidas, através de testamento, documento notarial, o que for.

quando li "a metamorfose" de franz kafka interpretei a verdadeira metamorfose não como sendo a do george samsa em insecto mas a que se dá na família após a sua morte, aquela que se antevê nos últimos parágrafos do livro.

obrigado pelo teu comentário.
um beijo

Anónimo disse...

Concordo com vc querido.
Se a chance de escolha fosse nossa e manifestada através de algum tipo de documento e ainda gozando de lucidez, acho válido ... mas deixar essa decisão por conta dos familiares caso seja necessário, acho muito complicado, pq nem sempre todos pensam da mesma forma.

Bjsssssss e ótima semana

Anónimo disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Peach disse...

Vulgar - a morte é um assunto muito delicado.

Morrer nos hospitais que temos, raramente será dignificante... e acredita que sei do que falo.


quanto aos suicidos, não é preciso ir tão longe. No nosso belo Alentejo, muitas pessoas de idade suicidam-se, sem conhecermos muito bem as razões. é dramático.


beijo

Peach disse...

Já agora deixo-te aqui uma noticia:

sociedade

Suicídio no Alentejo tem taxa mais alta do mundo

por:Roberto dores


Naquela manhã de 27 de Agosto de 1999, Álvaro saiu de casa meia-hora mais cedo que o habitual. Foi dar de comer ao gado e pôs-se a caminho. Era homem de poucas palavras. A mulher deduziu que teria ido a Vila Verde de Ficalho, em Serpa. Passaram-se horas a fio e Álvaro não aparecia. Já de noite, a família percebeu que algo acontecera. Na tarde do dia seguinte, chegava a notícia do seu suicídio.

Já lá vão seis anos e a família ainda não encontra justificação para que "um homem cheio de saúde, com uma posição estável e rodeado dos seus", diz a viúva, tivesse decidido pôr termo à vida, enforcando-se numa das árvores mais altas da serra. Álvaro tinha 68 anos e era um agricultor dedicado, conhecido entre os amigos por ser "muito sério e leal". A sua mulher tenta consolar-se, dizendo que "os grandes cérebros do mundo têm tendências suicidas".

Mas o caso de Álvaro é apenas um exemplo do triste fenómeno do suicídio que atravessa o Baixo Alentejo, onde a taxa de mortalidade atinge 24 em cada cem mil habitantes, com especial incidência entre os idosos do sexo masculino.

Ainda hoje os especialistas não conseguem perceber na plenitude o que leva alguém de idade já avançada e perto do fim a ter tanta pressa. Mas paredes-meias com o Baixo Alentejo está uma Andaluzia com uma das mais baixas taxas de suicídio da Europa que pode ser uma ajuda preciosa para a compreensão do problema.

Vulgar disse...

Peach,
agradeço o comentário e o texto que deixaste.
apenas coloco reservas quando à expressão do roberto dores "triste fenómeno".
talvez a chave para a compreensão por parte desses "especialistas" provavelmente demasiado jovens, será esse mesmo preconceito cultural com que abordam o tema.
um beijo