há aqueles almoços onde um dos convivas aparece como especialista em vinho e que, na hora de provar, consegue dissertar longamente sobre o sabor, o corpo, a substância, o aroma, a região, as castas, a cor, sei lá e lá temos que gramar com a descoberta recente daquele vinho que é o melhor do ano, que anda no mercado com a melhor relação qualidade preço enfim por ai fora, basta dar um pouco de corda ou dar entender que somos leigos mas interessados no assunto, e lá vem o discurso apropriado...algumas vezes é um conhecimento bastante genuíno outras, provavelmente a maioria, não. nota-se um certo discurso padronizado, uma certa unanimidade, e uns certos tiques (olhar a transparência, rodar o vinho, cheirar, bochechar. esse "savoir faire" ao fim de algum tempo é detectável, mesmo a quem não ande atento, até parece tirado de um curso intensivo...
o marketing e os prémios, nestas coisas têm um papel fundamental, se entre 1000(?) marcas de vinhos, houver um concurso onde participam 10, um deles sai com a medalha de ouro sem competir com os outros 990...
bastantes anos atrás li uma história verídica que, algo cinicamente me atrevo a contar por alturas da sobremesa, quando as virtudes do néctar voltam a ser assunto de eleição, sem antes deixar de falar claro nos resultados desastrosos da maioria das provas cegas:
um estudo sobre o léxico utilizado pelos provadores profissionais para classificar um vinho revelou que o vocabulário apenas variava em função de um único factor, a cor. se se trata de um tinto será descrito preferencialmente com tendo apontamentos de "maduro", "frutos vermelhos", "cereja", "amora", "frutos silvestres". pelo contrário os brancos serão classificados como contendo frutos claros "frutos brancos", "limão", "lichias"...
a malandrice foi dar a provar vinhos brancos previamente colorados para parecerem tintos e vinhos tintos colorados de branco... e tal como se depreende o vocabulário mudava com a cor de vinho...




